Capítulo 10
O navio de Balad Naran entrou no porto de Pikarayo na costa mais ocidental do reino de Vulkir. A cidade e as suas defesas estavam quase completamente reconstruídas desde o ataque de Rashagall. Com as tropas que vinham de Balad Naran os de Vulkir tinham conseguido rechaçar os anjos até ás suas fronteiras e aí os mantinham.
A cidade de Piakarayo tinha-se tornado um centro de passagem de refugiados que eram levados para Balad Naran. André ainda defendia a sua cidade e comandava o esforço de reconstrução. Ao ouvir que o navio real de Balad Naran aportara veio ao encontro dos seus reais convidados.
«Bem vindos a Vulkir.» disse André saudando bem alto os três visitantes.
«Obrigado André.» disse David saudando-o de volta. «Como vai a reconstrução?»
«Vai bem, estamos quase a acabar.» disse André orgolhoso.
Lígia olhava André com interesse.
«Vosso oráculo olha-me de maneira insistente.» disse André pouco á vontade.
«Lígia, é André um dos que necessitamos?» perguntou Freira.
«A sua aura é vermelha.» disse Lígia. «E sinto que seu destino está ligado ao nosso.»
«Que quereis dizer com isso?» perguntou André completamente perdido.
«Podemos conversar num local mais reservado?» perguntou David.
«Sim, claro, sigam-me.» disse André levando-os para a sua residência.
A casa de André era ampla, decorada com imagens de batalhas e com trofeus de guerra. Era a casa de um guerreiro. No centro da divisão central uma grande mesa de madeira rodeada de cadeiras. A mesa ocupava quase toda a sala, pois para os de Vulkir as refeições eram onde se faziam os negócios e se louvavam as deusas. Após algumas instruções de André, vário criados cobriram a mesa de alimentos. Um verdadeiro festim, não faltando o tradicional Javali assado e as taças cheias de Hidromel.
«Que dizíeis vós acerca de uma aura?» perguntou André após banquetear-se.
«Tendes uma aura especial á vossa volta.» disse Lígia.
David explicou então a André tudo o que sabia e André ouviu pensativo.
«Vossas palavras soam a verdade.» disse André. «Mas e a minha cidade?»
«Rashagall está agora a recuperar as suas forças.» disse Freira. «Os seus exércitos ganham número outra vez. Achais que conseguireis manter esta cidade contra tais números?»
«Vossas palavras ferem meu orgulho.» disse André. «Mas minha razão sabe que são verdadeiras. Eu acompanhar-vos-ei em vossa demanda. O meu machado está ao vosso dispor.»
Acabaram a sua refeição e André deixou-os a repousar para preparar a sua saída da cidade. Tinha de deixar um bom homem no comando das tropas e um engenheiro competente para liderar a reconstrução.
Depois de tudo resolvido os quatro partiram a cavalo para a fronteira com Guildenhome.
«Que caminho tomaremos?» perguntou André. «Se formos pela costa chegaremos mais rápido do que se formos pelo interior.»
«Que achais Lígia?» perguntou David.
«A estrada da costa certamente seria mais rápida.» disse Lígia. «Mas tenho um pressentimento que deveríamos tomar a estrada mais longa.»
«Que seja então a mais longa.» disse David.
Os quatro companheiros cavalgaram então pelas terras de Vulkir.
Vulkir não era uma terra luxuriante como Guildenhome ou desértica planície como Kyra, estava, para me poder explicar melhor, a meio dos dois. Planícies salteadas de pequenas florestas com quintas destruídas aqui e ali. Estavam a chegar a uma quinta de muda de cavalos quando viram uma coluna de refugiados a caminho de Pikarayo.
«De onde são?» perguntou Freira.
«Vejo gente de Venoa e de Arelai.» disse André.
«E se lhes desse-mos direcções para chegarem a Pikarayo mais depressa.» disse David.
«Uma boa ideia, David.» disse André.
Quando se aproximavam da coluna dos céus veio o grito de guerra das forças de Rashagall.
«Lígia fugi para a quinta e escondei-vos!» exclamou David.
«Majestade, não me tomeis por donzela desprotegida!» exclamou Lígia desembainhando uma espada e mostrando que por baixo das suas roupas de oráculo tinha uma armadura leve.
Os soldados da coluna de Venoa agruparam-se nos seus quadrados compactos de escudos e lanças enquanto os de Arelai se punham nos flancos dos quadrados com as suas azagaias prontas a lançar. Os restantes membros do povo agrupavam-se entre os quadrados esperando que estes os protegessem.
André empunhou o seu machado e ficou perto do povo com os seus companheiros.
«Tendes muita sorte em ter esta mulher.» disse André. «Foi ideia dela fazermos o caminho de armadura.»
«Foi o que me atraiu nela.» disse David. «Além de bela, é prudente e uma guerreira.»
«Obrigado meu amor.» disse Freira. «Mas podeis elogiar-me melhor quando tivermos vencido.»
«Sim tendes muita sorte!» exclamou André com uma gargalhada alta. «Em frente!»
A batalha foi brutal, o som de espadas e lanças a partir-se, os sons de escudos a amolgar, os gritos, o cheiro, o medo, a valentia, o sangue, a carne tudo se parecia fundir numa infernal orgia para os sentidos.
Freira estava com a sua armadura de cota de malha com um pequeno elmo que lhe protegia a cabeça deixando a cara livre á excepção de um pequeno pedaço de metal que lhe descia sobre o nariz. O seu cabelo de mel e ondulado debaixo do elmo parecia dar-lhe um ar mais feroz. Feira usava uma falcata e um escudo elíptico que a protegia dos ombros aos pés. Os seus inimigos tinham de tentar atacar a cabeça o seu ponto mais vulnerável mas para isso tinham de se aproximar e a falcata fazia-os desejar não se terem aproximado.
David por seu lado usava uma espada e armadura normais de um cinzento metálico. Mas era o seu escudo que o diferenciava de outros cavaleiros. Um escudo redondo com dentes nas bordas que podiam ser usados como armas quando David brandia o escudo ou quando fazia rodar o exterior do escudo como se fosse uma serra circular.
A batalha estava a terminar e os anjos tentavam fazer o máximo de vitimas antes de retirar. No meio dos caos Cátia e Rose protegiam o jovem ferido que haviam carregado até Vulkir. Tinham ficado isoladas e lutavam em inferioridade com alguns anjos. A lança de Cátia tinha ficado reduzida a metade e Rose não podia usar a sua azagaia da sua melhor forma.
Sem as duas saberem tinham ficado expostas a um ataque sorrateiro que por pouco não lhes tiraria a vida não fosse o jovem se ter levantado e se ter interposto entre elas e o mortal ataque.
Cátia e Rose estavam em choque ao verem o seu protegido ser trespassado pela espada de um dos anjos.
André e Lígia juntaram-se ás duas jovens e afugentaram os restantes anjos e a batalha terminava.
«Eu... eu...» disse o jovem moribundo.
«Não faleis.» disse Cátia.
«Sim.» disse Rose. «Vamos levar-vos a um físico.»
«Não vale a pena.» disse o jovem. «Digam a meu pai que morri como um Helénico.»
«Levar-vos-ei sobre o vosso escudo até vossa casa e contarei a vossa lenda.» disse Cátia de lágrimas nos olhos.»
«Eu acompanhar-vos-ei.» disse Rose chorando a seu lado.
«Agradeço-vos.» disse o jovem e exalou o seu último suspiro.
«Malditos!» gritou Cátia chorando. «Vou matar-vos a todos!»
«Que vossa alma descanse na luz.» disse Rose ajoelhada sobre o jovem.
«Que luz?» perguntou Cátia irada. «A luz com quem lutamos agora?!»
Rose olhou a sua amiga de lágrimas nos olhos...
«Perdoai-me Rose.» disse Cátia ajoelhando-se ao pé de sua amiga e abraçando-a. «Não mereceis a minha ira.»
«Que iremos fazer agora?» perguntou Rose retribuindo o abraço.
«Posso sugerir que vos junteis a nós?» perguntou Lígia.
«Oh desculpai.» disseram as duas jovens olhando André e Lígia.
«Não precisais de vos desculpar.» disse André sorrindo.
«Meu nome é Cátia.» disse Cátia recompondo-se.
«O meu é Rose.» disse Rose levantando-se também.
«O meu nome é André e esta é Lígia, oráculo de Balad Naran.»
«Senhoras peço-vos que vos junteis a nós em nossa missão.» disse Lígia.
«Teremos de lutar contra anjos?» perguntou Cátia.
«Sim.» disse André.
«Para mim basta.» disse Cátia. «Estou convosco.»
«E vós Rose?» perguntou André.
«Fiquei amiga de Cátia neste caminho em que o destino me pôs.» disse Rose pensativa. «Acho que meu destino se encontra ligado ao dela e por isso vou acompanhar-vos também.»
David e Freira viram os quatro aproximarem-se.
«Majestade.» disse Lígia. «Apresento-vos Cátia e Rose. Serão nossas companheiras em nossa demanda.»
«Que sejais bem vindas.» disse David.
«É um prazer receber-vos em nossa demanda.» disse Freira.
«Que faremos agora?» perguntou André.
«Primeiro arranjemos cavalos.» disse David. «Depois cavalguemos para Guildenhome.»
e assim fizeram.