Capítulo 12

 

A viagem até Cobb correu sem incidentes e o grupo aproveitou para se conhecer melhor. Fábio e Raquel estavam felizes por estarem entre amigos e por poderem deixar de fingir o protocolo. Ivandro desfrutava pela primeira vez da liberdade e gostava do que sentia e um sorriso não deixava os seus lábios desde que deixara o castelo. Rose e Cátia falavam da grande festa e do que sentiam enquanto André aproveitava para aproveitar as vistas que Guildenhome tinha para oferecer. David e Lígia tentavam encontrar o melhor caminho através das montanhas de Cobb. Freira e aproximou-se então de Carmen.

 

«Senhora Carmen posso falar convosco?» perguntou Freira um pouco receosa.

 

«Claro princesa.» disse Carmen. «Mas deixai de fora o senhora.»

 

«Então chamai-me de Freira também.» disse Freira.

 

«Muito bem Freira.» disse Carmen sorrindo. «Que me quereis?»

 

«Queria perguntar-vos como haveis conhecido David?» indagou Freira curiosa.

 

«Foi já há algum tempo.» disse Carmen. «Numa incursão ao Oeste.»

 

A mente de Carmen voltou então atrás no tempo, até ao dia em que tinha chegado a Balad Naran para se juntar a uma incursão para ajudar um dos reinos do Oeste contra as forças das trevas. Embora o Oeste fosse considerado o lado das trevas, alguns humanos também se tinham lá estabelecido e era também o lar dos Elfos, embora estes se mantivessem normalmente fora dos problemas dos humanos. A expedição seria liderada por David e incluía voluntários de todos os reinos do Leste. Acompanhando David estava a sua guarda pessoal e nela António. Carmen gostara de António, pois este mostrara-lhe o respeito de guerreiro que outros só mostravam quando derrotados pelas Amazonas. Durante a viagem até ao Oeste tinham aproveitado para treinar juntos no convés do navio onde se encontravam. O resultado era sempre um empate devido a exaustão, e terminava sempre com um sorriso de Carmen e uma gargalhada de contentamento de António. David por vezes também praticava com eles e a sua amizade começou a crescer. Quando desembarcaram no oeste foram recebidos pelos voluntários do Oeste. Neste grupo encontravam-se Cristina de Alfars Leap,Diana de Emrik, Patrícia de Nirn, Rodolfo de Ungueth, Serginho de Ouroboros, Soraia de Nik’z , Teresa de Ohmsmouth, Tiago de Gluk e Vanessa de Zhoran.

Embora fossem uma força de ataque que não confiava uns nos outros David conseguia manter a união através da diplomacia e por lembrar sempre que ali estavam para defender os povos e não para lutarem entre si.

A operação correu bem e os inimigos foram rechaçados. Quando chegaram a um local chamado Oten, ocorreu algo que faria com que Carmen, David e António se tornassem ainda mais unidos. Havia um pequeno povoamento de Orcs em Oten que seria o alvo da próxima incursão. No alto da maior colina estava uma árvore de sacrifício. David, António e Carmen subiram a essa colina para poderem observar o povoado dos seus inimigos. Lá encontraram quase toda a população ocupados com um ritual. As crianças Orc estavam amarradas e a ser preparadas para serem sacrificadas na grande árvore onde estavam já vários cadáveres em decomposição.

 

«Que fazem vocês?!» gritou António.

 

«Sacrificamos nossos jovens para os proteger de vocês!» gritou um velho Orc xaman.

 

«Loucura!» gritou António desembainhando a sua espada. «Não permitirei esta loucura.»

 

Os Orcs estavam em panico e David e Carmen estavam sem reacção enquanto António se aproximava das crianças.

 

«È por isto que os sacrificamos!» gritou o Orc mais velho. «Para vocês não os matem!»

 

Mas António não matava as crianças, libertava-as das cordas. Depois sorrindo levou-as para junto dos pais.

 

«Nunca mais.» disse António para o velho. «Nunca mais façam uma coisa como esta.»

 

Os Orcs não acreditavam no que um dos seus mais odiados inimigos acabava de fazer. Ele salvara as crianças deles de um sacrifício cruel.

 

«David. Acho que esta incursão termina aqui.» disse António sorrindo.

 

«Sim António.» disse David. «Rechaçamos o inimigo das nossas terras. Não precisamos de mais.»

 

Os Orcs voltaram para o seu povoado em silêncio de agradecimento e deixaram os três guerreiros com a árvore.

 

«Nunca mais.» disse António.

 

«Eu concordo.» disse Carmen.

 

«Eu também.» disse David. «Farei um juramento em frente á árvore de Oten que jamais deixarei um inocente ser sacrificado por injustiça.»

 

«É meu o mesmo juramento.» disse António.

 

«E o meu.» disse Carmen.

 

Os três voltaram para o seu exército que foi desmobilizado e foram para casa.

 

«Novamente António.» disse Freira arrancando Carmen das suas memórias.

 

«Pouco tempo depois de voltar-mos António tornou-se o cavaleiro fantasma.» disse Carmen com um sorriso triste. «Devia sentir-se culpado.»

 

«Culpado?» perguntou Freira.

 

«Cláudia estava entre os inimigos que perseguíamos.» disse Carmen. «Se tivéssemos continuado talvez a mulher de António ainda estivesse viva e António em Balad Naran.»

 

«Não. Não pode ser.» disse Freira.

 

«Mas foi.» disse Carmen. «Perdoai-me Freira se vos melindrei com esta história.»

 

«Não.» disse Freira. «Fui eu que vos perguntei. Não sabia que essa bruxa de Zaigonne também estava entre os inimigos. Deve ter sido horrível para António, saber disso e entendo a sua decisão agora.»

 

A viagem continuou até á fronteira de Cobb e o inicio das suas grandes montanhas. Aí Lígia tomou a liderança enquanto os seus sentidos procuravam o mais leve indício das auras escolhidas pelo Nexus.

Após vários dias perdidos nas montanhas chegaram então a uma montanha coberta de grutas onde o clã de Brunse se escondia. Os sentidos de Lígia tinham-na guiado até ali e encontrara os escolhidos Bruno e Lina.

 

«Então querem que nos juntemos a vós?» perguntou Bruno num conselho do clão onde também os soldados de Sulil Crag estavam.

 

«Sim.» disse David. «Necessito de vossa ajuda.»

 

«Eu vou.» disse Lina resoluta.

 

«Filha!» exclamou o pai. «Eu não vos dei permissão!»

 

«Pai. Eu não vos estou a pedir permissão.» disse Lina com um sorriso feroz. «Como guerreira estou a dizer que me unirei a estes heróis.»

 

«Lina!» gritou a mãe. «Que fazeis?!»

 

«Está na altura de deixar o lar e viver.» disse Lina. «Desculpai-me, mas nunca serei a senhora que desejaram. Tenho em mim o espírito guerreiro de meus antepassados.»

 

«Que seja então.» disse o pai fazendo uma vénia. «Tenho orgulho em ti filha.»

 

«Pai.» disse Lina emocionada e fazendo ela própria uma vénia.

 

«E vós Bruno?» perguntou David.

 

«Eu adoraria visitar novos reinos, mas o meu povo necessita de mim.» disse Bruno.

 

«O clã passará bem sem ti.» disse o mais velho do clã. «O teu espirito aventureiro já te levou a conhecer todas as montanhas de Cobb. Acho que está na hora de conheceres o resto do mundo.»

 

«Mas...» disse Bruno.

 

«Não há mas meu rapaz.» disse o Líder. «Tu sempre quiseste conhecer o mundo vai e aproveita. O clã ficará bem. Mas não te esqueças que representas Cobb, faz boa figura.»

 

«Obrigado.» disse Bruno emocionado. «Eu acompanhar-vos-ei príncipe David.»

 

«Agora que eu pensei que me ia livrar do raio do pastor.» disse Lina jocosa.

 

«Ainda tereis que me aguentar mais um pouco.» disse Bruno sarcástico.

 

E assim mais dois heróis se juntavam ao grupo enquanto Bruno os levava pelo caminho mais curto para Kyra.