Capítulo 18
A diferença entre os reinos humanos e os élficos era como a noite e o dia. As construções élficas pareciam ser parte da Natureza que os rodeava, mas mesmo assim não deixavam de ter uma magnificência que deixava as mais belas construções humanas como feitos de pouca monta.
O grupo adentrou pelas florestas de Ereuth, lar dos elfos das florestas. Eram um povo secretivo, quase nunca visto. Embora considerados os primos pobres dos outros elfos, a sua cultura e construções não lhes ficavam atrás.
O grupo penetrou na densa floresta e rapidamente perdeu a estrada. Os elfos das florestas não necessitavam de estradas. Conheciam cada árvore, pedra e arbusto pelo seu nome e guiavam-se por sinais tão antigos como enigmáticos. Nem mesmo Rodolfo e Tanuska que sabiam como se mover em ambientes florestais estavam sem saber o que fazer.
«Não estava á espera desta dificuldade.» disse David.
«Que podemos fazer?» perguntou Bruno. «Isto é um labirinto arbóreo.»
«Olha-me o pastor a usar palavras difíceis.» disse Lina rindo.
«Talvez eu consiga algo.» disse Lígia. «Posso tentar aumentar os meus sentidos até detectar quem procuramos.»
«Isso não será necessário.» disse uma voz.
O grupo viu-se então rodeado de elfos armados de arcos.
«Estávamos á vossa espera.» disse um dos elfos. «Vinde. Iremos levar-vos a quem procuram.»
«Conseguis ver as auras?» perguntou Lígia surpreendida.
«O nosso povo é muito antigo.» disso elfo que os guiava. «O nosso estudo da Natureza e da magia ensinou-nos a ver coisas que vós humanos apenas agora começam a entender.»
«Porque não nos ajudam então?» perguntou Lina.
«Não devemos.» disse o elfo. «Não podemos influenciar a vossa evolução.»
«Nem pôr-nos no caminho certo?» indagou Raquel.
«Se formos nós a decidir.» disse o elfo. «Será mesmo o certo?»
«Entendo.» disse Freira. «Tendes razão.»
«Ainda bem que percebeis.» disse o elfo. «Chegámos.»
O que o grupo via diante deles era algo de extraordinária beleza. Uma cidade construída nas árvores da floresta. Se não soubessem que estava ali teriam passado por ela sem a notar.
«É maravilhosa.» disse Carmen boquiaberta.
«Nunca vi nada assim.» disse Ivandro.
«É como um sonho.» disse Rose maravilhada.
«Obrigado.» disse o elfo sorrindo. «Mas achamos que é mais bonita por dentro.»
E assim foram levados por uma escada escavada numa árvore até ao topo onde vários edifícios feitos de uma madeira brilhante como sândalo ofereciam um cenário de paz e felicidade aos olhos de todos.
«Estou completamente abismada.» disse Lina.
«Nem os mais belos templos de meu reino conseguem tão belo efeito.» disse Cátia.
«Nem o maior dos monumentos de Malikor se compara.» disse Luís com o olhar de um menino perdido num loja de doces.
«Nem mesmo os de Hellrog.» concordou Filipe. «É da beleza que sonhos são feitos.»
«As montanhas de Meneloth não conseguem tanta paz.» disse Tânia maravilhada.
«Concordo contigo irmã.» disse Joaninha.
«É maravilhosamente maravilhosa.» disse Soraia com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios.
«Nem o meu reino que todos consideram o mais grandioso dos reinos humanos.» disse Freira. «Empalidece frente a esta pequena cidade.»
«Ah.» disse o elfo. «Ali se encontra quem procuram.»
«Sim é ela.» disse Lígia.
A jovem de quem falavam estava num circulo rodeada de outros elfos. As suas adagas élficas prontas. A um sinal o ataque começou e a jovem defendeu-se bravamente deixando prostrados os seus atacantes antes de se dirigir ao grupo.
Era jovem para os elfos, tinha a pele pálida e as usuais orelhas pontiagudas dos elfos. Os seus olhos verdes claros sorriam quase tanto como os seus lábios.
«O meu nome é Joana.» apresentou-se a jovem. «Mas podeis chamar-me Joninhas, é o que todos me chamam.»
«Um prazer conhecer-vos.» disse Freira. «Bem vinda ao nosso grupo.»
«Um prazer conhecer-vos.» disse Joninhas. «Mas apenas sei que me devo juntar a vós. Desconheço a razão de ter de ser assim.»
«Estamos num missão para salvar o mundo.» disse David.
«A vossa ajuda será muito bem vinda.» disse Raquel.
Joninhas ouviu a explicação de sua missão enquanto os levava através das florestas de Ereuth até á fronteira com Greyport.
Greyport não era tão florestado quanto Ereuth e possuía estradas rodeadas de belas florestas. As estradas levaram-nos até á grande cidade de Greyport a capital do reino.
Greyport era uma cidade cinzenta, não por ser triste, mas por ter sido construída com as pedras cinza das margens do rio Grey. Quem a via julgava que das pedras do rio se tinha erguido uma cidade. Era uma cidade dedicada ao saber. As suas ruas apinhadas eram palco de discussões que iam do metafísico ao banal acerca de tudo na Natureza.
O grupo foi levado pela cacofonia das ruas até uma das suas universidades onde uma jovem os esperava..
«Bem vindos a Greyport.» disse a jovem magra, de olhos verdes e sorriso doce.
«Obrigado.» disse David. «Sois entãoquem se vai juntar a nós?»
«Sim.» disse a jovem. «O meu nome é Angela.»
«E sabeis a razão?» indagou Freira.
«Existem muitas teorias.» disse Angela. «As com maiores possibilidades são a de ser uma missão para salvar este mundo ou para fazer tudo voltar ao seu estado normal.»
«Bem pelo menos as teorias estão quase certas.» disse Luís. «Mas se nós salvarmos o mundo não voltará tudo ao normal?»
«Achais mesmo?» indagou Angela. «A união de forças entre Trevas e Luz vai fazer mudanças a muitos níveis.»
«Mas a nossa vitória...» ia dizer Luís.
«Vai mudar muita coisa.» disse Angela. «Se para melhor ou para pior a seu tempo veremos.»
«Por acaso já tinha pensado nisso.» disse Carmen. «Mas acho que primeiro devemos preocupar-nos em terminar a nossa missão com sucesso.»
Angela sorriu e guiou-os então até á fronteira com o maior reino dos elfos. O grande reino de Naar.
Naar, a pérola do Ocidente, florestas luxuriantes, rios límpidos, estradas pavimentadas com pedras brilhantes, que até de noite permitiam aos viajantes ver para onde iam. As cidades, vilas e pequenas aldeias eram construídas requintadamente e com um brilho quase mágico.
O grupo estava maravilhado com o que viam de Naar. Embora Angela e Joninhas os levassem para longe dos povoados a beleza inata do reino era avassaladora.
Mas não tão avassaladora como a visão da capital do reino. Kyra tinha sido construída de uma montanha e Greyport das pedras cinza do rio Grey. A cidade de Naar era da cor do marfim de Kalil, construída em pedra da lua, assim chamada pelo seu brilho se assemelhar ao de um luar. A altura das suas torres faziam de Kyra e da sua montanha ser apenas uma colina. Quando as grandes portas de Naar se abriram, mostraram toda a magnificência da construção élfica, mesmo Angela e Joninhas estavam maravilhadas com a cidade. Os habitantes de Naar embora parecendo distantes receberam-nos com simpatia e em pouco tempo um guia levara-os ao grande palácio que se erguia sobre a cidade como se a observa-se.
O rei dos elfos reais recebeu-os então num dos grandes salões do palácio.
«Bem vindo príncipe de Balad Naran.» disse o rei. «Há muito que não recebemos visitas de humanos.»
«Nossos povos há muito deixaram de ser aliados.» disse David.
«Sim.» disse o rei. «A desconfiança entre nós afastou-nos.»
«Mas venho pedir-vos vosso auxilio nesta hora de desespero.» disse David.
«E nós honraremos esse pedido.» disse o rei. «Mas sabemos também que procurais entre nós alguém.»
«Sim majestade.» disse David. «E vós sabeis quem é.»
«De facto sabemos.» disse o rei. «Preparámos um teste para vós.»
«Um teste?» indagou David.
«Escolhereis vós mesmo quem vos acompanhará.» disse o rei. «Sem a ajuda de vossa oráculo ou de nossas primas de outros reinos.»
E com um gesto fez entrar no salão uma longa fila de elfos que se perfilaram perante David.
David olhou atentamente a fila perfeitamente alinhada perante ele. Estavam muitos elfos e elfas e de repente notou um lugar vazio. David aproximou-se cauteloso e descobriu não um lugar vazio mas sim uma elfa de estatura mais baixa.
David observou então as faces dos elfos, via nelas firmeza, altivez, segurança, liderança e deois focou a face da pequena elfa. O seu rosto exibia a serenidade de quem sabe o seu destino e um sorriso doce que fazia os seus olhos verdes cintilarem de felicidade.
«Eis a pessoa que procuro.» disse David.
«Sois um humano com capacidade de liderança.» disse o rei. «Aproximai-vos os dois.»
David e a pequena jovem aproximaram-se
«Príncipe de Balad Naran.» disse o rei. «Haveis escolhido a pedra mais preciosa deste reino. Deixo em vossas mãos a vida de minha filha, a princesa Andreia.»
Todo o grupo teve um pequeno momento de espanto. Ter elfos no grupo já era desconcertante, mas a vinda de uma princesa ia mudar mais coisas por certo.
Foi dado então um grande banquete em honra da princesa e da sua nova missão. Todos aproveitaram ao máximo a diversão e a pedido dos elfos partilharam canções dos seus povos. A favorita foi a de Paula que a repetiu várias vezes.
«Bem vinda majestade.» disse Freira.
«Por favor, não me chameis majestade enquanto estiver convosco.» disse a princesa. «Chamai-me Pequenina.»
«Pequenina?» indagou Filipe.
«É como me chamam os meus amigos.» disse Pequenina.
«É uma honra que nos concedeis.» disse Fábio.
Na manhã seguinte já equipados foram levados por pequenina pelo seu reino até á fronteira com Ungor.