Capítulo 19
Ungor mal podia ser considerado um reino. Era um pequeno local numa montanha com acesso a uma grande caverna. Uma pequena aldeia ficava no sopé da montanha. Os humanos que lá habitavam guardavam o segredo da montanha com a s suas vidas. Eram escolhidos de entre os jovens da aldeia um para viver na caverna e proteger o seu segredo.
A chegada de um grupo tão grande de guerreiros a Ungor foi uma surpresa. Ungor mantinha-se normalmente afastada dos conflitos do mundo, excepto numa ou outra ocasião, onde se aliavam a outros reinos contra as invasões dos exércitos das Trevas ou quando o seu precioso segredo era ameaçado.
Estando tão a Norte, numa região tão inóspita e sendo a sua fronteira ao Sul com o reino dos elfos reais, o seu isolamento era quase total, a maioria dos reinos das Trevas e mesmo os da Luz desconheciam e existência do reino de Ungor.
A chegada do grupo foi recebida com uma ameaça velada por parte da aldeia. Não foram proferidas palavras, mas os seus olhares diziam tudo. Não eram bem vindos, afastem-se de nós, vão-se embora de nosso reino.
Lígia e as três elfas procuraram por toda a aldeia mas não encontraram vestígios da pessoa que procuravam.
«Só existe mais uma hipótese.» disse Lina. «Aquele que está na caverna.»
«Não sei se chegaremos lá sem luta.» disse Cátia.
«Sim, não me parece que nos deixem aproximar de lá.» disse Joaninha.
«Eu posso lá chegar.» disse Rodolfo.
«Eu também.» disse Tanuska.
«É melhor tentar-mos uma maneira mais diplomática.» disse David.
Mas Rodolfo e Tanuska já corriam pela estrada para a caverna e toda a aldeia caíu sobre o grupo.
«Não firam ninguém!» gritou Freira.
«Dizei isso a eles!» disse Bruno aparando um golpe.
A batalha foi curta mas feroz mas em pouco tempo toda a aldeia se encontrava presa.
«David.» disse André. «Ide procurar Rodolfo e Tanuska.»
«Podeis ir todos vocês.» disse Paula. «Eu mantê-los-ei sossegados.»
A voz de Paula elevou-se então e a sua canção manteve os habitantes num sono hipnótico.
O grupo seguiu então o caminho até á caverna.
Na caverna a situação não estava melhor, Rodolfo e Tanuska lutavam com um jovem dentro de um templo.
«Tanuska o que se passa?» perguntou Diana.
«Rodolfo e eu entrámos no templo e fomos atacados. Deve ser o guardião.»
«É ele que procuramos!» exclamou Pequenina.
Rodolfo aparou os golpes do seu atacante mas a sua fúria guerreira venceu e com um pontapé rotativo lançou o jovem directamente para o poço que se encontrava no centro do templo.
Enquanto caía o jovem entrou em contacto com o segredo que guardara toda a sua vida.
«Filho de Ungor.» disse a voz no fundo do poço. «A vossa morte está iminente.»
«Perdão.» disse o jovem. «Falhei em minha missão.»
«Ainda não.» disse a voz. «Como vos chamais?»
«Bruno.» disse o jovem. «Mas todos me chamam Ganopa.»
«Muito bem Ganopa.» disse a voz. «Tendes duas escolhas, a morte ou unirdes-vos a mim e sobreviverdes.»
«Unir-me?» indagou Ganopa.
«Sim.» disse a voz. «Ou perecereis.»
«Que seja então.» disse Ganopa.
«Muito bem.» disse a voz.»
E numa explosão a união consumou-se. Ganopa sentiu o seu corpo ser coberto por uma armadura. Na sua mente os acontecimentos passados passavam por ele. Ganopa viu a batalha titânica entre o último dos dragões e um cavaleiro sobre a montanha. Ambos estavam exaustos e feridos mas não davam quartel e não desistiam da batalha. No fim o dragão lançou-se sobre o cavaleiro e ambos caíram no vórtice mágico que se tornara depois o poço que os de Ungor protegiam. No fundo do poço os inimigos mortais haviam sido fundidos num só. Uma armadura negra com escamas de dragão e a enorme espada fundida com as poderosas garras do dragão, e a sua cabeça fundida com o elmo metálico. Essa armadura cobria agora Ganopa enquanto asas de dragão saíam das costas da armadura e levavam-no de volta ao topo.
Ganopa saiu do poço para surpresa de todos. Ao aterrar as asas recuaram para o interior da armadura.
«Quem sois?» perguntou Ganopa. «Que quereis da caverna de Ungor?»
«O meu nome é David, Príncipe de Balad Naran.» disse David. «Venho pedir vosso auxílio.»
«Vossas palavras soam a verdade.» disse Ganopa. «Continuai.»
«A minha missão consiste em reunir heróis de todo o mundo.» disse David. «Para salvar todo o mundo.»
«Embora não queira abandonar o meu reino.» disse Ganopa. «A minha aramdura compele-me a aceitar.»
«Então aceitareis o meu pedido?» indagou David.
«Eu aceito.» disse Ganopa.
«Temos de voltar á aldeia.» disse Freira. «Paula ainda lá está.»
«Então apressemo-nos.» disse David. «Inimiga ou não Paula é agora uma de nós. E não gostei de a deixar sozinha.»
O grupo voltou rapidamente á aldeia onde Paula tinha revertido á sua forma de sereia e a sua canção era entrecortada por uma estranha falta de ar.
«Paula que vos passai?» perguntou Freira. «Precisais de algo?»
«Precisa de água.» disse Lina lançando um balde de água sobre Paula.
«Obrigado Lina.» disse Paula. «Haveis salvo a minha vida.»
«Não tendes de fazer menção disso.» disse Lina com uma pequena vénia. «Faríeis o mesmo por mim.»
Ganopa por seu lado explicou aos seus concidadãos a razão de ser de sua nova aparência e a missão que iria iniciar com o grupo. E em breve toda a aldeia celebrava a libertação do seu segredo e o novo herói que agora emergia.
No plano dos deuses as tropas moviam-se rapidamente. Enquanto as forças de Rashagall ganhavam número a Leste, as forças do Oeste recebiam reforços dos reinos visitados por David.
Embora nenhuma das forças de Zerathull e Tassadar se tivessem mobilizado, parecia inevitável que as suas forças se moveriam após a descoberta que os reinos da Luz do Ocidente estavam desguarnecidos.
Na ilha de Balad Naran o rei recebia os reforços e colocava-os para os reinos sitiados. As defesas assim reforçadas ganhavam novo alento e nova determinação que em breve conseguiriam repelir as forças de Rashagall e reconquistar as terras por ela tomadas.
Zerathull e Tassadar sorriam e mesmo Artanis parecia ter recuperado parte de sua vitalidade. O Nexus mantinha-se imóvel, mas pequenos movimentos dos seus olhos traíam o seu interesse renovado pelo jogo do destino. Rashagall observava maravilhada como o seu plano decorria de maneira tão previsível. Em breve as forças das Trevas atacariam as suas e o final do conflito se iniciaria. Ela dominava o destino, perdendo ou ganhando seria finalmente livre.
O grupo dirigiu-se então para as terras do Sudoeste de Ungor, para o deserto de Ouroboros.
Ouroboros um deserto escaldante povoado por pequenos oásis, utilizados pelo povo que aí habitava.
O grupo chegou a um dos oásis graças aos mapas que Angela trouxera de Greyport. Esses mapas continham os conhecimentos dos elfos sobre as terras do Ocidente.
Enquanto estavam a descansar e a repor a água nos seus cantis, ouviu-se u grande barulho de animais cavalgando para eles.
«Que coisas são aquelas?» perguntou Patrícia.
«São Dromelos.» disse Angela sorrindo. «Já tinha visto ilustrações, mas nunca pensei vê-los no seu meio ambiente.»
Os Dromelos que se aproximavam não eram selvagens, eram cavalgados pelo povo nómada de Ouroboros.»
«Saudações estrangeiros.» disse o homem que parecia ser o líder, sendo também saudado pelo grupo. «É estranho ter estrangeiros em nossas terras, sobretudo com elfos.»
David explicou então a sua missão.
«Entendo.» disse o homem. «Procurais então um entre nós.»
«Sim.» disse David.
«Podemos dispensar um.» disse o homem. «E os exércitos das nossas tribos irão ajudar em vosso empreendimento.»
«Muito vos agradeço.» disse David.
«Meu senhor.» disse Paula. «Se me permitirdes, poderei nadar em vosso lago?»
«Nadar?» perguntou Paula. «É a primeira vez que me pedem tal coisa. Mas não é proibido, logo podeis.»
«Obrigado.» disse Paula.
E sem olhar para trás Paula mergulhou nas águas frescas do lago e voltou á sua forma de sereia e deliciou-se a explorar as profundezas do lago.
«Pensei que as sereias fossem vossas inimigas.» disse o homem.
«Estes são tempos estranhos.» disse André. «Até nossos inimigos se tornam nossos aliados.»
«Isso é verdade.» disse Rodolfo. «Até eu me uni a uma rival.»
«Mas coisas mais estranhas virão.» disse Lina. «Estamos quase a entrar nas terras das Trevas.»
«Que coisas tão estranhas estamos a viver.» disse Andreia. «Que situação.»
E assim o sol caiu sobre o Ocidente e o grupo esperou pela manhã para se dirigir para Alfars Leap.
Durante a refeição da noite Lígia apareceu com um jovem ao seu lado.
«Apresento-vos Serginho.» disse Lígia. «Ele vai juntar-se a nós e será também nosso guia em Ouroboros.»
«É um prazer conhecer-vos.» disse Serginho. «Espero poder ajudar no que puder.»
«Bem vindo Serginho.» disse Freira. «Sereis de certeza uma valiosa ajuda.»
A manhã chegou e com a aparelhagem feita partiram para Alfars Leap.