Capítulo 20

 

No fim do deserto de Ouroboros estavam as montanhas onde se encontrava Alfars Leap, o templo das irmãs do terceiro olho.

O templo ficava no pico mais central da cordilheira e apenas se podia lá chegar por meio de uma ponte de corda.

Enquanto o grupo percorria as montanhas, David lembrava os velhos tempos e um sorriso aflorou nos seus lábios.

 

«Boas memórias?» perguntou Freira.

 

«Algumas.» disse David. «Lembrava-me de quem conheci de Alfars Leap.»

 

«Quem?» indagou Freira.

 

«Uma jovem de nome Cristina.» disse David. «Uma jovem muito especial.»

 

«Especial como?» perguntou Freira.

 

«Era um perigo...» disse David rindo.

 

«Falavas de Cristina?» indagou Carmen.

 

«Sim.» disse David.

 

«E pensais que será uma das escolhidas?» perguntou Carmen.

 

«Tenho quase a certeza que será.» disse David. «Que os deuses nos ajudem.»

 

A chegada ao templo deu-se dias depois. Uma pequena ponte por onde passava um cavalo de cada vez era o único acesso e das janelas o brilho de múltiplas flechas apontavam para eles.

As portas do grande templo abriram-se e a sacerdotisa mãe recebeu-os.

 

«Bem vindos a Alfars Leap.» disse a Sacerdotisa. «Estávamos á vossa espera.»

 

«Obrigado senhora.» disse David. «Sabeis, então, o porquê de nossa vinda.»

 

«Sim.» disse a Sacerdotisa. «Em nossas meditações vimos o que se iria passar.»

 

«Então sabeis também quem é a irmã que se irá juntar a nós.» disse David.

 

«Sim e vós também.» disse a Sacerdotisa.

 

«Olá majestade.» disse Cristina com os seus olhos verdes brilhando e um sorriso doce a bailar-lhe nos lábios.

 

«Cristina que bom é ver-vos.» disse David. «Pareceis diferente.»

 

«Foi o treino a que me submeti.» disse Cristina sorridente.

 

«Um treino?» indagou David.

 

«Sim.» disse Cristina. «Um treino fora do templo. Com um professor especial.»

 

«Muito bem.» disse David. «Esse treino será de grande ajuda á nossa missão. Vinde, irei apresentar-vos a todo o grupo.

 

Cristina foi apresentada a todo o grupo enquanto ceavam no grande salão de refeições do templo.

 

«Ouvi David dizer que haveis tido um treino diferente.» disse Lina.

 

«Sim.» disse Cristina. «Com António e Cláudia.»

 

«Com quem?!!!» perguntou Carmen engasgando-se.

 

«Com António e Cláudia.» repetiu Cristina.

 

«Freira haveis ouvido?» perguntou Carmen. «Terá António enlouquecido ou caído vítima de um feitiço?»

 

«Cristina contai-nos tudo o que sabeis.» pediu Freira.

 

Cristina contou então como António e Cláudia haviam chegado ao templo e pedido guarida. Pareciam apaixonados um pelo outro e passavam o tempo juntos. Cristina era conhecida pela sua propensão a acidentes e era geralmente evitada. António e Cristina tinham-se conhecido durante a incursão que David liderara, e Cristina gostara do facto de António nunca a evitar e até mesmo lhe dar conselhos nas artes da guerra.

António viera então falar com Cristina e propusera-lhe que tanto ele como Cláudia a poderiam treinar.

A solitária Cristina não cabia em si de contente e aceitou de imediato a proposta.

O treino foi intenso. Com António aprendera a melhorar as suas capacidades físicas através de um treino de pesos e resistência e m breve superava as suas irmãs em todos os aspectos embora estivesse também coberta de nódoas negras e arranhões. Com Cláudia aprendera a libertar o seu potencial psíquico, conseguindo antever armadilhas e desenvolveu um sentido de perigo que já a livrara de sarilhos por mais de uma vez.

Mas um dia António e Cláudia haviam-se despedido de todas as irmãs e partiram para o Ocidente.

 

«Que teria acontecido a António?» perguntou Carmen. «Não é admissível que se tenha unido à pessoa que mais odiava.»

 

«Será que Cláudia o enfeitiçou?» indagou Freira.

 

«Não parecia enfeitiçado.» disse Cristina. «E nenhuma das nossas irmãs detectou o uso de magia.»

 

«Seria possível que António se apaixonasse por Cláudia de verdade?» perguntou Lina confusa.

 

«Seria possível que se apaixonasse pela inimiga que perseguia?» indagou Raquel.

 

«António estava obcecado por Cláudia.» disse David aparecendo de surpresa perto delas. «Não me admiraria que se a derrotasse a perdoaria também.»

 

«Ao ponto de ficar com ela?» indagou Freira.

 

«António era uma criatura muito complexa.» disse David. «Nunca deixei de pensar no que lhe teria sucedido e tenho ouvido por Freira as aventuras que teve. Depois de tento tempo e tanta perseguição, não seria de admirar que os seus sentimentos tivessem mudado.»

 

«Pelo que me pareceu.» disse Cristina. «Os sentimentos deles pareciam verdadeiros.»

 

«Se ela lhe pediu perdão.» disse Carmen. «Não me admiraria que António a perdoasse, mas ficar com ela, não sei.»

 

A questão ficou no ar enquanto se preparavam para partir para Gluck.