Capítulo 21
«Mas quando é que entraremos nas terras das Trevas?» perguntou Patrícia.
«Muito em breve.» disse Pequenina. «Agora que estamos em Gluck, falta apenas visitar Okunada e finalmente Zhoran.»
«O meu povo recorda os homens selvagens de Gluck como grandes lutadores mas um pouco instáveis.» disse Luís.
«Parecem-se com os de Nik’z.» disse Rodolfo rindo.
«Mas pelo menos não nos regemos pelo dinheiro!» exclamou Soraia.
«Esse comentário ofendeu-me.» disse Diana aborrecida.
«Perdoai-me Diana.» disse Soraia. «Mas vós sois mercenária de guerra. Os de Ungeth são espiões e assassinos.»
«Somos os melhores espiões e assassinos.» disse Rodolfo orgolhoso.
«Permita que discorde.» disse Angela. «Os de Parmétika são considerados melhores espiões e quanto ao assassínio será difícil bater os de Zhoran. No entanto em combate não tenho dúvidas em afirmar que conseguiríeis ser melhor.»
«Só mesmo uma elfa poderia destruir as vossas crenças e fazer-vos sentir bem com isso.» disse Fábio sorrindo para Rodolfo.
«Sem dúvida.» disse Rodolfo rindo.
A paisagem em Gluck era bonita, sobretudo se comparada com a desoladora nudez das montanhas perto de Alfar’s Leap. Pequenas florestas cobriam as colinas, e muito pasto nas planícies, ao longe. Aqui e ali pequenos rebanhos lanudos pastavam em paz.
«Não esperava que Gluck fosse tão calma.» disse Angela.
«É o povo que é selvagem.» disse Rose. «Não a terra.»
«Quase parece impossível que alguém destas terras seja merecedor do cognome selvagem.» disse Ivandro.
«Estais a passar demasiado tempo com a realeza.» disse Carmen jocosa. «Estais a usar um vocabulário cada vez mais refinado.»
«Então ele será o nosso nobre selvagem.» disse Lina. «Devíeis aprender com ele Bruno.»
«Sou um pastor e guerreiro de Cobb.» disse Bruno Altivo. «Não preciso de ser mais.»
«Concordo plenamente.» disse uma voz perto deles.
«Quem sois vós?» indagou Cátia.
«O meu nome é Tiago.» disse o jovem de cabelos castanhos e olhos verdes. «Sou um pastor e guerreiro de Gluck.»
«E sois também quem procuramos.» disse Joninhas.
«Procuravam-me?» indagou Tiago na defensiva.
David explicou então a Tiago a sua missão.
«Parece-me uma boa aventura.» disse Tiago sorrindo. «Irei convosco.»
«Óptimo, que sejais bem vindo.» disse Freira.
«E estar na companhia de tantas damas bonitas também ajuda.» disse Tiago matreiro.
«O pastor ainda agora chegou a já está a tentar conquistar-vos senhoras.» disse Rodolfo rindo.
«Parai de rir-vos de mim ou partir-vos-ei a cara !» exclamou Tiago ofendido.
«Agora percebo o porquê de chamarem aos habitantes daqui homens selvagens.» disse Ivandro.
E com as risadas de todos começaram a viagem para Okunada.
Okunada a floresta eterna. Entrecortada por pequenas aldeias de guerreiros, famosos pela sua ferocidade.
O grupo seguia em amena conversa quando foi rudemente interrompido por um brado de guerra.
Todo o grupo reagiu de imediato e colocaram-se em posição defensiva.
De um dos lados da floresta apareceram vários guerreiros gritando e correndo para eles, mas Cristina, Angela, Pequenina e Joninhas viraram-lhes as costas e surpreenderam uma emboscada.
«Como sabíeis?» perguntou Pequenina. «Também os haveis escutado?»
«Não.» disse Cristina. «A sensação de perigo provinha da retaguarda.»
«Pensei que apenas os de Zaigonne tinham esse sentido.» disse Angela.
«Cláudia é uma Zaigonne.» disse Cristina.
«Entendo.» disse Joninhas. «Treinou-vos bem.»
David entretanto falava com a líder do grupo que os emboscara.
«As minhas desculpas estrangeiros.» disse a mulher. «O meu nome é Boadiceia e esta é a nossa forma de testar a coragem de quem nos visita.»
«Uma maneira perigosa.» disse Lina.
«Nós chamamos-lhe corajosa.» disse Boadiceia altivamente.
«Concordo.» disse Bruno. «O meu povo desafia-se também assim.»
«Claro que iríeis concordar.» disse Lina aborrecida. «Selvagens.»
«Como faz o vosso povo?» perguntou Boadiceia.
«Ficamos frente a frente com o inimigo e declaramos a nossa linhagem e esperamos que ele faça o mesmo para sabermos se merece a pena lutar entre nós.» disse Lina orgulhosa.
«E chamais a nossa maneira perigosa?» disse Boadiceia. «A vossa parece louca.»
«Sempre é melhor que a dos Ungeth.» disse Tanuska. «Para desafiarem alguém apunhalam-nos pelas costas.»
«Se ides matar alguém para quê perder tempo.» disse Rodolfo.
«Não me parece ser a melhor forma.» disse Boadiceia. «Mas vinde. Falaremos na nossa aldeia.»
O grupo foi escoltado até á aldeia onde se realizou um pequeno banquete.
Uma das servas atraíu o olhar de Lígia.
«Podeis dizer-me quem é aquela serva?» perguntou Lígia.
«O seu nome é Vera.» disse Boadiceia. «Porque perguntais?»
«É a pessoa que procuramos.» disse Lígia.
«Uma serva?» perguntou Boadiceia. «Pensei que procuráveis um guerreiro ou guerreira.»
«As aparências iludem.» disse Ivandro.
«O que dizeis pode ser verdade.» disse Boadiceia. «Mas não vos posso ceder uma serva, sem ela ganhar a sua liberdade.»
«E como pode ela conseguir isso?» indagou Cristina.
«Por meio de um combate.» disse Boadiceia.
«Só podia.» disse Lina.
«Vera, vinde.» disse Boadiceia.
Vera aproximou-se receosa, os seus grandes olhos mostravam o medo que lhe ia na alma.
«Senhora haveis-me chamado?» disse Vera.
«Sim Vera.» disse Boadiceia. «Estes estrangeiros precisam de vós, mas sabeis que apenas guerreiros livres podem abandonar a aldeia. Estais disposta a empreender o teste?»
«Senhora é um pedido tão súbito.» disse Vera. «Eu não sei se estarei preparada.»
«Por favor Vera, eu rogo-vos que tenteis.» disse Freira.
«Senhora, não deveis implorar a uma serva.» disse Vera. «Mas se é assim tão importante, eu tentarei.»
«Obrigado Vera.» disse Freira sorrindo.
«Preparem a arena!» disse Boadiceia.
Foi feito um quadrado no centro do salão e todos o rodearam.
«Escolham as armas.» disse Boadiceia.
«A espada.» disse a guerreira num dos lados.
«Eu escolho...» disse Vera receosa. «Os Chakrams.»
O silêncio ocupou toda a sala. As palavras de Vera tocaram toda a assistência. Mesmo sem saberem o porquê, até o grupo caiu no silêncio.»
«Sabeis o que haveis dito?» perguntou Boadiceia.
«São armas proibidas eu sei.» disse Vera. «Mas são as únicas que sei usar.»
«Que seja então.» disse Boadiceia. «Que o teste se inicie.»
Um pequeno grupo de músicos começou a tocar e as duas adversárias avançaram para o centro do quadrado.
«Como funciona o teste?» indagou Ivandro.
«A guerreira com mais golpes dados no final da música será a vencedora.» disse Boadiceia.
«Só isso?» indagou Cátia.
«Que hipóteses terá Vera?» perguntou Rose.
«As mesmas que qualquer guerreiro.» disse Boadiceia. «Servos treinam tanto quanto os guerreiros livres. Mais até se quiserem ser livres depressa.»
Vera e a sua adversária mediam as distâncias, a espada dava a vantagem de distância, mas os Chakrams de Vera davam-lhe a vantagem defensiva.
A adversária de Vera tentou um ataque por cima, mas Vera cruzou os Chakrams e defendeu o golpe. A adversária tentou então uma estocada mas Vera meteu a lâmina pelo centro do Chakram esquerdo e rodando acertou com o Chakram direito na nuca da sua adversária que caiu incosciente.
«Alto!» gritou Boadiceia. «Vera deixou a sua adversária inconsciente. Vera é a vencedora.»
Todos irromperam em aplausos, até mesmo a adversária de Vera que tinha sido acordada.
«Sois agora uma guerreira livre.» disse Boadiceia. «Sois agora livre de escolher vosso destino.»
«O grupo e estrangeiros precisa de minha ajuda.» disse Vera. «Irei com eles.»
«Muito bem.» disse Boadiceia. «Seja esse vosso destino.»
Vera uniu-se ao grupo e começaram a viagem para a fronteira com as terras das Trevas, o reino tenebroso de Zhoran.