Capítulo 22

 

Zhoran a fronteira com os reinos das Trevas era uma terra escura com tempestades durante os dias de todo o ano. O grande castelo com cinco caras sofredoras, onde em cada qual turmas de jovens eram ensinados nas artes do assassínio.

O grupo ficou um pouco abatido com o tempo à excepção de Paula que adorou o facto de poder sentir água á sua volta.

A recepção no castelo também não foi das melhores. Os de Zhoran não eram tidos como um povo de confiança devido ao seu treino em assassínio e viam os outros povos com igual desconfiança. Apenas uma pessoa estava feliz por vê-los, uma jovem muito sorridente chamada Vanessa.

 

«Vanessa é bom ver-vos novamente.» disse David.

 

«É também muito bom ver-vos.» disse Vanessa.

 

«Vanessa!» exclamou Cristina. «Sois mesmo vós!»

 

«Olá Cristina.» disse Vanessa com um sorriso que iluminava toda a sala. «É bom ver-vos.»

 

«Venham, vou levar-vos a vossos aposentos.» disse uma aia

 

Durante o jantar o grupo ficou isolado das turmas á excepção de Vanessa que se lhes juntou.

 

«Porque não estais com vossa turma?» perguntou Andreia.

 

«Não estou em nenhuma.» disse Vanessa. «Podeis dizer que estou suspensa.»

 

«Suspensa?» perguntou Pequenina. «Que haveis feito?»

 

«Aceitei um treino fora das turmas de Zhoran.» disse Vanessa.

 

«Com António e Cláudia?» indagou Cristina.

 

«Com António apenas.» disse Vanessa. «Não conheço nenhuma Cláudia.»

 

«Conheceis sim.» disse Carmen. «Uma Zaigonne que lutou contra nós na incursão em que haveis participado.»

 

«Que faria António com ela?» perguntou Vanessa surpreendida.

 

«Em Alfar’s Leap pareciam muito apaixonados.» disse Cristina.

 

«Apenas António veio a Zhoran.» disse Vanessa. «Estava ferido mas só.»

 

«Contai-nos o que aconteceu.» pediu Freira.

 

Vanessa contou então como um dia António chegara muito ferido ao castelo. Como Vanessa o conhecia da Incursão liderada por David, ficou destacada como sua enfermeira. Embora António nunca tenha falado de quem ou de o que o atacara ou de como se ferira, Vanessa tinha visto feridas de garras na sua pele.

Enquanto António se recuperava, mostrara a Vanessa algumas técnicas de luta de Balad Naran. Vanessa aprendia depressa e António mostrara-lhe ainda mais , e em pouco tempo a combinação entre as técnicas de assassinato de Zhoran e a luta de Balad Naran fizeram dela uma verdadeira arma viva.

Não sendo permitido o estudo de artes de guerra estrangeiras, Vanessa havia sido suspensa da escola. Mas continuava a treinar á parte e a derrotar quase todos os alunos da escola. Era ao mesmo tempo odiada e invejada por professores e alunos, mas a sua personalidade amável e o seu bom humor conquistavam também admiração e a amizade de outros alunos.

Mas um dia António tinha recuperado de suas feridas e partiu para Ocidente para nunca mais ser visto.

 

«Então ocorreu algo entre Alfar’s Leap e Zhoran.» disse Cristina pensativa.

 

«Terão sido atacados?» indagou Raquel.

 

«Será que Cláudia se tronou má novamente?» perguntou Andreia.

 

«Cláudia pode ter morrido no ataque.» disse Ivandro.

 

«Pode ter sido ela a atacá-lo.» disse Carmen.

 

«Pode ter sido ele a atacá-la.» disse Filipe.

 

«Nisso não consigo acreditar.» disse Freira. «Não é a pessoa que conheci.»

 

«Quem sabe o que se pode ter passado.» disse Luís. «Talvez se o encontrar-mos algum dia saberemos.»

 

Depois da refeição o grupo retirou-se para descansar antes da partida para as terras das Trevas. Vanessa retirou-se também, mas não para descansar. Vanessa foi para o patamar superior do quinto andar do castelo e deixou que a chuva a ensopasse. Retirou as suas adagas Sai das suas bainhas e iniciou a sua rotina de combate. As suas adagas cortavam a chuva e lançavam-na em várias direcções mas sempre guiadas pela vontade de Vanessa. Até os seus movimentos faziam o mesmo efeito criando á sua volta um tornado de água dispersa.

 

«O treino da cascata.» disse David interrompendo Vanessa.»

 

«António substituiu a cascata com a chuva de Zhoran.» disse Vanessa.

 

«Importai-vos que vos faça companhia?» perguntou David.

 

«Há já algum tempo que não pratico com ninguém.» disse Vanessa. «Será um prazer.»

 

Os dois enfrentaram-se á chuva incessante. David e a sua espada contra as adagas Sai de Vanessa. Embora afastados vários passos o ataque e a defesa eram feitos através pelos cortes da chuva feitos pelas suas armas contra o adversário.

Após uma troca de golpes que foi aumentando de velocidade e intensidade os dois ensopados e sorrindo olharam-se.

 

«António treinou-vos bem.» disse David. «Foi bom reviver os treinos com ele.»

 

«Obrigado majestade.» disse Vanessa. «É melhor ir preparar-me para partir.»

 

Todo o grupo se juntou ás portas do castelo para partirem.

 

«Para onde iremos?» perguntou Pequenina.

 

«Iremos para Norte.» disse David. «Para Ak.»