Capítulo 26

 

Gorag a cordilheira de grandes montanhas que simbolizavam a fronteira  com os reinos elementais. Na montanha mais alta erguia-se o castelo de gelo, lar dos elementais de água.

O grupo avançou sobre ravinas, enfrentou tempestades de gelo e vento até que por fim avistaram o cume e o imponente castelo de Gorag.

 

«É realmente uma vista deslumbrante.» disse Vanessa.

 

«É melhor apreciá-la.» disse Cristina. «Pode ser a nossa última.»

 

«Será pelo menos uma bela visão.» disse uma voz perto deles.

 

«Quem disse isso?» perguntou Cristina.

 

«Acho que foi aquele bloco de gelo a brilhar vermelho.» disse Angela.

 

O bloco de gelo tornou-se uma jovem de cabelo negro.

 

«Sejam bem vindos a Gorag.» disse a jovem. «O meu nome é Ana Rita, mas chamam-me Rita.»

 

«Sois apenas água?» indagou Paula maravilhada.

 

«Água e espírito.» disse Rita.

 

«Fabuloso.» disse Paula.

 

«Que vindes fazer a Gorag?» perguntou Rita.

 

«Vimos em busca de vossa ajuda.» disse David.

 

«De minha ajuda?» indagou Rita.

 

David explicou então sua missão a Rita.

 

«Vossas palavras soam a verdade.» disse Rita. «Convido-vos para uma refeição no castelo.»

 

Rita conduziu-os então até ao castelo de Gorag, uma estrutura de gelo no topo da montanha. Com três grandes colunas cónicas que brilhavam ao sol do fim do dia.

 

«Os elementais de água comem?» perguntou Soraia.

 

«Possuem uma água especial.» disse Angela. «Nós conhecemo-la como a Água da vida»

 

«Sim.» disse Rita. «É a razão também porque muitos nunca deixam Gorag.»

 

«Porquê?» indagou Joninhas.

 

«Muitos tentam roubar a Água da vida.» disse Rita.

 

«A Água da vida cura doenças e prolonga de quem a bebe.» disse Angela.

 

«Mas é mais do que isso.» disse Rita. «A Água da vida possui espíritos. Quando um está completo nasce da fonte um novo elemental de água.»

 

«Isso é maravilhoso.» disse Betinha.

 

O grupo entrou no castelo de Gorag e foi levado para um dos grandes salões onde uma grande mesa estava á espera deles. Nessa mesa apenas uma pequena taça se encontrava em cada lugar. Rita tomou o seu lugar á cabeça da mesa e indicou a todos os seus lugares.

Todos agarraram  a sua taça e observaram o seu conteúdo. No fundo da taça encontrava-se uma pequena quantidade de água. Não seriam mais de três gotas.

 

«Um brinde á nossa missão.» disse Rita erguendo a sua taça.

 

Todos brindaram e beberam.

 

«Sinto-me completamente saciada.» disse Vanessa.

 

«E com energia.» disse Cristina.

 

«É este o efeito da Água da vida?» indagou Carmen.

 

«É.» disse Rita. «Cura doenças, cansaço, sacia á fome e prolonga a vida.»

 

«Não destruímos nenhum espírito pelo seu consumo?» perguntou Ivandro preocupado.

 

«Não vos preocupeis.» disse Rita. «Não haveis destruído nada.»

 

O grupo ficou em quartos preparados para eles, a descansar antes da partida, desta vez para Pa-Kur a ilha dos ventos.

Após as montanhas de Gorag ficava um pequeno mar interior onde no seu centro ficava a ilha dos ventos Pa-Kur.

 

«Como chegaremos ali?» perguntou Diana.

 

«Deverá haver um porto algures.» disse Teresa.

 

«Será que é aquilo?» perguntou Tanuska apontando.

 

Ao longe estava uma estrutura  enorme que parecia um pontão de um porto. Estava no sítio errado, pois estava a grande altura muito longe do mar.

O grupo aproximou-se da misteriosa estrutura a medo.

 

«Bem vindos estrangeiros.» disse uma voz no vento.

 

«Obrigado.» disse Soraia. «Quem nos fala?»

 

«O meu nome é Bóreas.» disse um homem aparecendo do ar e ficando como que a flutuar no ar. «Estávamos á vossa espera.»

 

«Á nossa espera?» perguntou David.

 

«Sim.» disse Bóreas.

 

«Mas como?» indagou Freira.

 

«Já deveis ter ouvido o ditado “ as palavras leva-as o vento”?» disse Bóreas.

 

«Entendo.» disse David. «Sabeis então que procuramos um de vós para nos acompanhar.»

 

«Sim.» disse Bóreas. «Vinde minha jovem, vossos novos companheiros a esperam.»

 

Uma jovem apareceu do éter, tinha o cabelo encaracolado pelos ombros, uns olhos verdes profundos, um sorriso doce e a pele morena.

 

«O meu nome é Solange.» disse a jovem. «è uma honra unir-me a vós.»

 

«Bem vinda Solange.» disse David.

 

«Tenho um navio á  nossa espera.» disse Solange. «A Floresta Negra fica do outro lado deste mar.»

 

«Navio?» perguntou Tiago. «Qual navio?»

 

«Aquele.» disse Solange sorrindo.

 

Na estrutura do pontão encontrava-se uma nuvem em forma de navio.

 

«Mas poderemos navegar uma nuvem?» indagou Ivandro.

 

«Sim.» disse Solange. «Embarquemos.»

 

Um pouco a medo todos entraram no navio e para sua surpresa sentiam o navio tão sólido quanto a seu homónimo  de madeira.

A viagem foi calma, não ouviam o ranger do casco ou o embater das ondas. Sentiam apenas o prazer de vogar pelo ar.

Durante algum tempo puderam observar a ilha de Pa-Kur. Uma ilha onde o vento corria livre, o relevo alterava-se de momento para momento enquanto ciclones  passavam a ilha e perdiam-se no mar.

 

«Como conseguem viver assim?» perguntou Carmen.

 

«Digamos que estamos sempre a redescobrir  onde moramos.» disse Solange sorrindo.

 

Em breve a ilha tornou-se apenas um ponto no horizonte e as costas da Floresta Negra apareciam  debaixo deles. O navio deixou-os no solo e desvaneceu-se no ar.

A Floresta Negra estava diante deles, era o lar dos Elementais de fogo. O seu nome derivava se ser tão densa que a luz do sol raramente passava até ao chão. No entanto havia luz no solo, os Elementais de fogo, criaturas de fogo vivo viviam na floresta.

O grupo adentrou pela floresta com Angela, Joninhas e Pequenina liderando o grupo com a luz da estrela Yagdrazill em pequenos contentores de vidro que brilhavam na escuridão.

No meio de toda aquela escuridão encontraram de repente uma grande luz atrás de uma curva.

Ao espreitarem viram uma aldeia. Uma aldeia em chamas, não, uma aldeia de chamas. Não havia nada mais que chamas naquela clareira cavernosa. As casas eram feitas de chamas e pequenas crianças de chamas brincavam diante delas enquanto os adultos de chamas tratavam das suas vidas. Tão fascinados estavam pelo espectáculo que observavam, que nem notaram que algumas dessas crianças se tinham aproximado deles. E só quando se olharam e as crianças correram a gritar é que se aperceberam que podiam estar em perigo.

A aldeia entrou em alvoroço enquanto Elementais de fogo adultos vinham em sua direcção.

 

«Vós sois o príncipe David?» perguntou um dos elementais.

 

«Sim.» disse David. «Sabeis de minha missão?»

 

«Sim.» disse o Elemental. «O meu nome é Pirus, líder dos Elementais de fogo. Eu convidá-los-ia a passarem a noite na aldeia mas seria demasiado perigoso.»

 

«Não tem importância.» disse David. «Se puderem pôr-nos no caminho certo para o deserto de Minaduin.»

 

«O que de nós se juntará a vós irá conduzir-vos até lá.» disse Pirus.

 

«Obrigado.» disse David.

 

«Pedro.» disse Pirus. «Vinde ter com vossos novos companheiros.»

 

Um jovem Elemental saiu de entre a multidão e com uma pequena vénia apresentou-se ao grupo.

 

«O meu nome é Pedro.» disse o jovem. «Irei ficar nesta forma até sairmos da Floresta Negra. Aí poderei assumir outra forma mais humana.»

 

Com Pedro a liderar o caminho depressa saíram do Labirinto da Floresta Negra e entraram no deserto de Minaduin.

O deserto de Minaduin era apenas um enorme areal varrido por ventos que faziam as dunas dançar e mudavam o relevo constantemente. Algumas rochas eram as únicas constantes.

 

«Como vamos encontrar um Elemental de terra neste deserto?» perguntou Teresa.

 

«Eu posso guiar-vos.» disse Serginho. «Mas também não sei como encontrar um.»

 

«Acho que não teremos esse problema.» disse Cátia.

 

«Porquê?» indagou Rose.

 

«Porque aquela rocha está a vir ao nosso encontro.» disse Cátia com os olhos esbugalhados.

 

«Peço-vos desculpa.» disse a rocha assumindo uma forma humanoide. «Mas vossa beleza fez-me aproximar.

 

«A minha beleza?» perguntou Cátia corando.

 

«Sim minha senhora.» disse o jovem de pedra. «O meu nome é João e o vosso?»

 

«Cátia, o meu nome é Cátia.» disse ela.

 

«Que vindes fazer em Minaduin?» indagou João.

 

«Andávamos á vossa procura.» disse Pequenina.

 

«Á minha procura?» perguntou João.

 

David explicou então a sua missão.

 

«Eu...» disse João olhando para Cátia. «Eu irei convosco.»

 

E com João no grupo todos se puseram a caminho de Ghoglie.