Capítulo 3
Em Kyra a situação era também desesperada. As grandes muralhas de defesa e as suas armas de defesa mantinham ao longe os inimigos mas sem a ajuda e os mantimentos vindos de outros reinos, também não conseguiriam manter as defesas por muito tempo. Nas torres de defesa, uma jovem olhava o campo e batalha. Andreia com o seu rosto sardado e cabelos ao vento mirava com ódio os serafins que desciam a atacar mais uma caravana de refugiados.
«Meu capitão, não podemos fazer nada por eles?» perguntou Andreia desgostosa.
«Não podemos dispensar mais ninguém para o resgate!» exclamou o capitão. «Só se fores sozinha.»
«Muito bem.» disse Andreia colocando o seu elmo e agarrando o seu martelo de guerra.
«Onde pensas que vais soldado?» ainda perguntou o capitão mas Andreia já descia as ameias em direcção a um cavalo.
«Abram a poterna!» gritou Andreia enquanto montava.
Um dos soldados abriu uma pequena porta do tamanho de um cavalo e cavaleiro e Andreia saiu para os campos onde a caravana estava a ser atacada. Em poucos segundos Andreia galopava em direcção aos refugiados a serem atacados protegida por uma salva de setas das ameias da grande capital.
Andreia chegou á caravana e começou a brandir o seu martelo de guerra e dois dos serafins já não se levantaram.
«Que estais a fazer humana?» perguntou um dos serafins. «Atacas os serafins de Rashagall.»
«Eu ataco qualquer injustiça.» disse Andreia elevando o seu martelo sobre a cabeça. «Agora desapareçam criaturas malditas!»
E com um poderoso golpe do bico do martelo silenciou outro serafim. Andreia estava em desvantagem e sabia-o, mas esperava afugentar os serafins o suficiente para os refugiados chegarem á protecção das muralhas.
Andreia lutava com bravura mas estava cercada e prestes a cair quando dois serafins caíam por terra perfurados por uma fina espada e uma adaga.
«Não caireis aqui minha amiga!» exclamou uma jovem de baixa estatura, cabelos negros de ébano, e olhos tristes. «Não enquanto Tânia de Meneloth respirar!»
«Obrigado Tânia...» dizia Andreia quando as duas foram derrubadas por um voo rasante de um dos últimos serafins.
«Optimo.» disse o serafim empunhando a sua espada. «Deviam verificar sempre a retaguarda... ARRRGH.»
«Vós também.» disse outra jovem um pouco mais forte que a primeira, mas mostrando traços de família semelhantes.
«Obrigado Joaninha.» disse Tânia.
«Estais bem?» perguntou Joaninha retirando o seu Stiletto do peito do serafim.
«Cuidado!» exclamou Andreia lançando o seu martelo sobre a cabeça de Joaninha e matando um serafim.
«Obrigado.» disse Joaninha sorrindo. «Acho que também tenho de seguir esse conselho.»
Os restantes serafins deixaram o ataque e retiraram e Andreia, as duas guerreiras e o que restava da caravana conseguiram chegar ás portas de ferro das muralhas e á segurança das suas torres.
«ANDREIA!» o grito do capitão ecoou pelo pátio á medida que chegava. «Em nome dos deuses o que pensavas estar a fazer?»
«O que o meu capitão ordenou.» disse Andreia com falsa inocência.
«Se não precisássemos de todos os soldados eu próprio te poria fora do exército.» disse o capitão. «Isso e seres a melhor que temos.»
«Sim capitão.» disse Andreia com um sorriso doce nos lábios. «Vou tentar não ser tão impulsiva de futuro.»
«Faz isso!» disse o capitão voltando para o seu posto.
«As minhas desculpas pelo incómodo que vos causei.» disse Tânia aproximando-se de Andreia. «Mas sem vossa ajuda não teríamos conseguido chegar aqui. Os meus agradecimentos.»
«E os meus.» disse Joaninha.
«Aceito os agradecimentos, mas guardem as desculpas.» disse Andreia rindo alto. «Eu escolho as minhas acções, eu assumo as consequências. Vós vindes de Meneloth?»
«Sim.» disse Tânia. «Meneloth caiu em dois dias frente a este exército.»
«Dois dias.» disse Andreia pensativa. «Mas como?»
«Nunca sonhámos em tal traição.» disse Joaninha. «As nossas portas estavam abertas para eles e depois foi o inferno.»
«O exército?» perguntou Andreia enquanto levava as duas guerreiras para umas acomodações precárias para refugiados.
«Aniquilado.» disse Tânia tristemente. «O que restou ficou a proteger a retirada do povo.»
«Talvez venham mais algumas caravanas se não forem atacadas com demasiada força.» disse Joaninha.
«Mas eu tenho de voltar.» disse Tânia chorosa.
«Irmã tu nem sabes se...» disse Joaninha triste.
«Ela está viva!» exclamou Tânia. «A Beatriz está viva e eu vou encontrá-la.»
Tânia deixou Andreia e Joaninha sozinhas.
«A filha de Tânia foi levada num ataque á caravana.» disse Joaninha. «Não sabemos se vive ou não. Com anjos e serafins a atacarem-nos não podemos ter certeza de nada.»
«Os nossos oráculos podem ajudar.» disse Andreia.
«Não.» disse tristemente Joaninha. «Não podem. Rashagall está a usar um tipo de magia que impede os oráculos de sentirem os deuses. Foi assim que nos surpreenderam.»
«Então é por isso que nenhum dos nossos aliados nos enviou reforços ou mantimentos.» disse Andreia. «Eles nem sequer sabem do que se passa aqui.»
«Exactamente.» disse Joaninha.
«Tenho de avisar os meus superiores.» disse Andreia.
«Vela no horizonte!» disse uma das sentinelas. «É um navio de Balad Naran!»
«Óptimo.» disse Andreia. «Os de Balad Naran vêem para nas ajudar.»
E todos se dirigiram para o porto para receberem os seus aliados...