Capítulo 30
No plano dos deuses o jogo continuava. As cartas começavam a mover-se no mapa do lado da aliança.
«Artanis explicai-me uma coisa.» pediu Zerathull
«Dizei Lord Zerathull.» disse Artanis deixando de olhar a mesa.
«Porque é que vosso herói deambula pelas terras das Trevas em vez de liderar os exércitos?»
«Irmão, isso é simples.» disse Tassadar cortando o embaraço de Artanis. «A sua presença faz com que nossos monarcas enviem suas tropas mais facilmente.»
«Exactamente.» disse de imediato Artanis. «Eis a explicação.»
De facto as tropas das Trevas continuavam a avançar para o Leste logo após a chegada de David a esse reino.
Rashagall por seu lado olhava maravilhada o jogo. Cada vez mais o seu plano corria bem. Melhor talvez do que o esperado. Em breve as suas forças ou as da aliança conseguiriam uma vitória absoluta e a sua liberdade. Tinha um pouco de pena pelas suas criações, os seus filhos, mas já era tarde demais para desistir do seu plano.
No mundo mortal o grupo deixava Mog e entrava na terra maldita de Zaigonne, o reino das bruxas. Entravam a medo, pois alguns deles já tinham Cláudia e sabiam o quão poderosas eram as bruxas e bruxos de Zaigonne. Além das lendas acerca das habitações serem construídas dos ossos de seus inimigos.
A visão com que se depararam quase confirmava as lendas, uma estrutura aterradora estava à sua frente. Uma fortaleza construída com ossos, não humanos, de animais gigantescos. A enorme porta de marfim abriu-se com um lamento e duas mulheres de cor saíram para fora.
«Bem vindos a Zaigonne.» disse uma das mulheres. «Nós iremos nos juntar a vós em vossa missão.»
«Pedimos desculpa por não vos deixar entrar mas a morte de Cláudia ainda é recente e existe alguma animosidade em relação a humanos e em especial de Balad Naran.» disse a outra.
«Não vos preocupeis.» disse David. «Entendemos o sentimento. Entre nós também existe alguma animosidade por pessoas de Zaigonne.»
«Contra elas não.» disse Carmen. «Apenas contra Cláudia.»
«Obrigado.» disse a mais velha. «O meu nome é Manuela, oráculo de Zaigonne, mas chamam-me Nela.»
«E eu sou Claudina.» disse a mais nova. «Esperávamos por vós desde que a luz de Cláudia se apagou. As profecias assim o ditavam.»
«Entendo.» disse David. «Bem vindas ao grupo.»
As duas Zaigonne agradeceram e juntaram-se ao grupo.
O grupo dirigiu-se então para Archon A Garome, o reino dos Necromantes.
Era um reino cinzento, coberto de brumas que deixavam uma luminosidade pobre e baça. Em todo o reino o cheiro da morte imperava. Por onde passavam, os pobres escravos dos Necromantes, olhavam-nos com os seus olhos sem vida. Os vivos esses escondiam-se nas suas casas com medo da morte e do que viria depois. A conselho de Nela seguiram para um castelo situado numa ravina sobre uma aldeia onde a vida corria pacatamente sem sinais de tanto medo.
Ao chegar ao castelo os guardas, dois esqueletos, barraram-lhes o caminho.
«Venho falar com vosso amo.» disse David. «O meu nome é David de Balad Naran.»
«Eu esperava-vos príncipe.» disse um jovem saindo de uma nuvem negra diante deles. «O meu nome é Sérgio, sou o senhor deste castelo.»
«Sabeis então de minha missão.» disse David.
«Sei.» disse Sérgio. «O destino deste mundo está em nossas mãos. Mas tendes a certeza que quereis pôr vossa confiança num Necromante.»
«Se puseram numa Viúva Voadora.» disse Joana jocosa. «Não podereis ser muito pior.»
«Muita Bem.» disse Sérgio rindo. «Convido-vos a cear em minha modesta habitação.»
«Imagino se não fosse modesta.» disse André a rir.
Mas realmente o castelo era modesto. Pouca mobília e a que existia não era rica nem excessivamente decorada, apenas simples e funcional. Um esqueleto bastante velho veio ter com eles.
«Ponde o jantar na mesa.» disse Sérgio. «Vinde, vou mostrar-vos vossos aposentos.»
Sérgio levou-os então a cada um a um quarto, simples com uma cama e um armário de roupa.
«Pensava que os Necromantes teriam mais servos.» disse Joana ao chegar ao seu quarto.
«Tento perturbar ao mínimo o sono eterno dos meus servos.» disse Sérgio. «Um servo trará água para um banho em breve.»
Sérgio era de facto diferente dos seus decadentes colegas Necromantes. Mas não era dos menos poderosos. Na ausência dos estrangeiros o povo da aldeia era livre e alegre e de bom grado aceitavam os servos de Sérgio, e até ficavam honrados quando algum dos seus mortos era escolhido para essa tarefa.
O jantar foi um banquete mas sem nenhum prato vistoso ou complicado, uma refeição de viajantes.
«Os outros Necromantes também estão a par de minha missão?» perguntou David.
«Sabem apenas do grande exército.» disse Sérgio. «Apenas eu conheço o segredo da missão.»
«Amanhã iremos para onde?» indagou Cristina.
«Eu proporia Verzar.» disse Sérgio. Os Gnoll são menos combativos dentro de seu reino.»
«Um último reino de paz antes de enfrentarmos nossos piores inimigos.» disse David cansado.
«Não diria tanto.» disse Sérgio. «Eu disse menos combativos e não pacíficos.»
O esqueleto servia-os vagarosamente e a refeição prolongou-se noite dentro.
Na manhã seguinte com Sérgio o grupo partiu para as cavernas de Verzar.
As grandes cavernas estavam diante delas, da escuridão podiam ouvir os gritos dos Gnoll e de algo mais. De repente um Gnoll e uma criatura muito mais pequena saíram a lutar de uma das cavernas.
«O que é aquilo?» perguntou Cristina.
«Um Gnoll.» disse Angela. «Um cruzamento mágico de um humano e de um Troll.
«E o outro?» perguntou Joana. «Até pensei que fosse uma criança.»
«Não acredito.» disse Sérgio. «É um Anão!»
«Não pode ser.» disse Pequenina. «Os Anões desapareceram há milénios aquando das primeiras guerras.»
«Lamento despontá-la.» disse o anão escapando-se da moca do Gnoll. «Mas ainda sobrevivemos alguns Elfa.»
«Majestade.» disse Lígia.
«Eles são os escolhidos?» perguntou David sarcástico.
«Assim é majestade.» disse Lígia.
Paula ouviu o que foi dito e começou uma canção que acalmou os dois oponentes.
«Senhores o meu nome é David de Balad Naran.» disse David. «Necessito de vossa ajuda.»
Paula calou-se então deixando os dois novamente livres.
«Falai.» disse o Anão.
«Ouvirei o que tendes para dizer.» disse o Gnoll surpreendendo todos.
David falou então de sua missão e do papel dos dois nela.
«Contai comigo.» disse o Anão. «O meu nome é Duarte, mas chamam-me Candido.»
«Candido?» perguntou Angela.
«É que sou muito querido Elfa.» disse Candido.
Todos riram e viraram-se para o Gnoll.
«Eu também irei.» disse o Gnoll. «O meu nome é Ricardo mas também respondo por Pinela.»
«O que significa Pinela?» perguntou Ana Raquel.
«Culto.» disse Ricardo «Sou dos únicos Gnoll que aprenderam a falar humano.»
E com mais dois membros o grupo partiu para Bane.