Capítulo 32
De Taur partiram para Nagarishu, o reino dos Vampiros. Um reino com céus sempre nebulosos de maneira a proteger os seus habitantes. Estes eram senhores de humanos que lhes serviam de alimento e servos.
«Não concordo com a maneira de governo dos Vampiros.» disse Silva.
«Mas os que servem de refeição são muito respeitados.» disse Sérgio.
«Sim.» disse Silva. «Podem mandar nos servos até morrerem.»
«Não temos de concordar.» disse Candido. «Só precisamos trabalhar com o que se juntar a nós.»
«Verdade.» disse Claudina. «Só teremos de fazer isso.»
A viagem foi tensa. Os aldeões evitavam-nos, nem sequer os olhavam. O medo sentia-se no ar tal como se fosse uma pressão atmosférica. Seguiram o caminho da dor até um grande castelo onde a realeza dos Vampiros vivia em decadente opulência.
As grandes portas vermelho sangue abriram-se para o grande pátio onde os pálidos servos dos Vampiros os receberam e trataram de suas montadas.
«Bem vindos a minha humilde casa.» disse um vampiro de armadura vermelho sangue resplandecente á pouca luz que penetrava as nuvens.
«Obrigado senhor.» disse David seguindo o protocolo de boas vindas.
«Vinde entrai.» disse o Vampiro. «Deveis estar cansados da viagem.»
Todos entraram no castelo que ao contrário do julgado, era lindamente iluminado por grandes candelabros. Os corredores estavam cobertos de quadros.
«Posso ter ousadia de vos perguntar quem são?» indagou Joana.
«São retratos dos que se juntaram ás minhas legiões.» disse o Vampiro sorrindo.
«São imensos.» disse Vanessa.
«Assim é.» disse o Vampiro. «A minha companhia nesta vida eterna.»
O grupo foi então levado até ao maior salão do castelo onde as legiões de Vampiros os esperavam. Os seus olhares iam do espanto ao esfomeado.
«Agora já sei como se sente um auroque numa praça.» disse Joaninha.
«Compreendo-te irmã.» disse Tânia. «Até me dão arrepios os olhares de alguns.»
«Não vos preocupeis.» disse Claudino. «Não deixarei que mal algum vos aconteça.»
«Os meus agradecimentos Claudino.» disse Tânia sorrindo. «Vossa protecção será muito bem vinda.»
«Meus filhos, música, comida e bebida!» exclamou o Vampiro que os recebera. «Temos convidados e não quero que se diga que Vlad não sabe receber.»
Uma orquestra começou a tocar e vários humanos pálidos começaram a trazer bandejas com comida e copos, alguns de vinho e outros de sangue.
No centro do salão vários pares rodopiavam ao som das notas tristes tocadas pela orquestra.
Sérgio, Vanessa, Joana e Cristina estavam a observar a festa quando um dos lacaios passou com uma bandeja de copos. Sérgio retirou copos para todos.
«Um brinde ao nosso sucesso.» disse Sérgio erguendo o seu copo e bebendo.
As suas companheiras seguiram-lhe o exemplo.
«Hum...» disse Sérgio. «Lavadeira... 17 anos... virgem...»
Todas cuspiram de imediato o líquido.
«Não era o vinho.» disse Sérgio com um pequeno sorriso. «A rapariga do outro lado da sala.»
«Sérgio!» exclamou Vanessa. «Ireis pagar por esta brincadeira.»
«Quereis ajuda?» indagou Joana.
«Eu também ajudarei.» disse Cristina.
«Foi uma afirmação inocente.» disse Sérgio pouco arrependido e prestes a rebentar de riso. «Não era minha intenção melindrar-vos.»
«Até está bastante bom.» disse Candido com um cálice cheio de sangue.
«Que fazeis Candido?» perguntou Joninhas enojada.
«Nós anões gostamos de experimentar todas as comidas e bebidas locais.» disse Candido com ar satisifeito. «Sabe um pouco a ferro e não é alcoólico, mas é diferente.»
«É o sangue de um humano!» exclamou Rute. «Nem nós Górgonas fazemos isto aos nossos inimigos quanto mais a servos.»
«A cada um o que é seu.» disse Candido encolhendo os ombros e afastando-se para beber o seu sangue em paz.
A festa continuava maravilhosamente. Juntando-se aos casais que dançavam estavam Fábio e Raquel dançando também. Numa atitude bastante ousada João tirara Cátia para dançar e que espectáculo davam a rodopiar pelo salão. Claudino aproveitou o ensejo e tirou Tânia para dançar.
«Claudino tenho de dizer-vos uma coisa.» disse Tânia. «Eu poderei apenas ser vossa amiga. A minha filha e o pai dela esperam-me.»
«Assim será.» disse Claudino. «Mas por esta noite dancemos como se estivéssemos só nós dois nesta sala.»
David procurara Freira por toda a festa...
«Aqui estais senhora.» disse David. «Quereis dançar um pouco?»
«Não, David.» disse Freira. «E não sei como podeis vós pensar nisso.»
«Freira que se passai?» perguntou David.
«António está morto. Estamos a unir um exército para derrotar a deusa a quem eu rezo. Estamos no covil de tudo o que chamamos de inumano e demoníaco e vós quereis dançar?» disse Freira á beira do desespero.
«Foi algo que aprendi com António.» disse David. «Não perder uma oportunidade para ser um pouco feliz, pois nunca se sabe quando teremos outra.»
«E olhai o que lhe aconteceu.» disse Freira.
«Sim.» disse David. «Mas esteve com Vanessa e Cristina e nessas alturas foi feliz por um pouco.»
«Eu não sou como vós.» disse Freira ofendida.
«Nem eu vos peço para ser.» disse David. «Amo-vos como sois e se não quereis não vos obrigarei.»
As três Elfas com Lígia e Nela corriam a festa em busca do Vampiro que se lhes juntaria.
Num canto do salão encontraram um jovem bebendo calmamente o seu copo de sangue.
«Será então ele quem se juntará a nós...» disse Nela pensativa.
«Não parece ser um grande guerreiro.» disse Angela.
«Não pareço?» disse o jovem voando da cadeira até estar cara com cara com Angela.
«As aparências iludem.» disse Pequenina sorrindo.
«Dizeis que me juntarei a vós.» perguntou o jovem.
Pequenina contou-lhe a missão em que o grupo estava envolvido.
«Parece uma aventura interessante.» disse o jovem. «Mas antevejo um grande problema.»
«E qual será esse problema?» perguntou David chegando com Vlad.
«Sou um Vampiro.» disse o jovem. «O sol matar-me-á ao sair de Nagarishu.»
«Existe uma maneira.» disse Vlad.
«Levar um caixão?» perguntou André.
«Não» disse Vlad. «Uma espada especial.»
«Elizabeta.» disse o jovem.
«Eu?» perguntou Betinha.
«Não senhora.» disse Vlad. «A espada chamada Elizabeta.»
«A espada feita do sangue da rainha de Nagarishu.» disse o jovem. «Eu Pedro da casa dos Fava, não sou digno de tal honra.»
«Sois.» disse Vlad desembainhando a espada e entregando-a a Fava. «Estais comigo desde que comecei o meu reinado, mereceis tal honra e mais.»
Fava recebeu a espada e ajoelhou-se diante de Vlad.
«Eu farei tudo para não desonrar vossa confiança e a espada que agora empunho.» diss Fava com convicção.
«Senhoras e Senhores regozijai!» Exclamou Vlad. «Um de nós parte á aventura, em sua honra mais uma dança.»
E a festa continuou pela noite dentro...
Na manhã seguinte o grupo partiu pelas cinzentas paisagens de Nagarishu.
«Por entre aquelas montanhas fica o caminho mais rápido para a Torre da Morte.» disse Fava. «Embora não seja muito usado.»
«Porquê?» perguntou Soraia.
«É uma zona perigosa onde os relâmpagos abundam.» disse Fava.
«Mas temos que nos apressar.» disse Ana Raquel. «Seria melhor se seguíssemos por esse caminho.»
«Tendes razão.» disse David. «Seguiremos pelo caminho mais curto.»
Todo o grupo cavalgou pelo caminho por entre as montanhas. Os céus resmungavam e os relâmpagos surgiam aqui e ali.
«Serei só eu ou os relâmpagos parecem estar a ser guiados.» perguntou Rute.
«Tendes razão Rute.» disse Claudina. «Algo guia os relâmpagos.»
O grupo seguiu cautelosamente em direcção á origem dos relâmpagos, uma pequena montanha, comparada com as outras, onde uma grande nuvem de tempestade cuspia relâmpagos.
«Isto parece mau.» disse Candido entredentes.
«Temos de enfrentar o que for.» disse Nela.
«Isso é o que me preocupa.» disse Candido.
Aproximaram-se vagarosamente do cume e a visão que tiveram foi muito estranha. Um jovem forte de olhos claros brincava com os relâmpagos num estranho jogo de apanhada.
«Eu não acredito no que vejo.» disse Angela. «Pensava que os Thorian tinham perecido há milénios.»
«Thorian?» perguntou David.
«Os Thorian eram o povo do trovão.» disse Angela. «Inimigos mortais dos Demónios.»
«E dos Anões.» disse Candido. «Durante anos lutámos contra eles.»
«Porque razão?» indagou Soraia.
«As armaduras deles são retiradas pelos relâmpagos das terras ancestrais de meus antepassados.» disse Candido. «Isso é uma declaração de guerra.»
«Eles ao menos sabiam disso?» perguntou Cristina.
«Não importa.» disse Candido. «Assim é a honra dos Anões.»
«Não admira que estejam quase desaparecidos.» disse Angela revirando os olhos.
«Tendes alguma coisa a dizer-me Elfa?» perguntou Candido ofendido.
«Tenho.» disse Angela elevando a voz. «O meu nome é Angela e a vossa honra distorcida levou-vos a perder todos os aliados que tiveram.»
«Aí está o que eu gosto.» disse Candido. «Eu respeito quem me faz frente.»
«Que fazem vocês aí?» perguntou o jovem parando de brincar.
«Acho que a nossa conversa foi detectada.» disse Candido.
«Achais mesmo?» perguntou Angela sarcasticamente.
«Ser não vos identificardes terei de destruir-vos.» disse o jovem.
«Perdão.» disse David. «O meu nome é David, príncipe de Balad Naran.»
«Bem vindo príncipe.» disse o jovem com uma vénia atabalhoada.
David explicou então a sua missão ao jovem.
«O meu nome é Nuno.» disse o jovem. «Parece ser uma aventura, podeis contar com minha ajuda.»
E com Nuno no grupo, partiram para a Torre da Morte.