Capítulo 36

Na fronteira de Kabor estava a porta sangrenta, a entrada para os Corredores do Caos. Todo o dia  o sangue escorria pelas frestas da porta e os gritos dos condenados ecoavam pelos corredores assombrados.

 

«Sabeis como abrir a porta?» perguntou Vanessa a Greg.

 

«É só empurrar.» disse Greg. «Dia e noite a porta sangrenta está aberta. Sair é que é mais difícil.»

 

O grupo adentrou no maior antro do mal existente nos reinos que habitavam. Um enorme labirinto cheio de portas que levavam a cada vez maiores torturas e sofrimento para deleite dos seus infernais habitantes. Humanos e outros, capturados em guerras e através dos malditos contratos, eram ali como gado divididos e entregues aos seus novos amos para lhes proporcionarem diversão e prazeres de novas dores.

O cheiro do medo, da dor, de excrementos confundia-se com o cheiro erótico do prazer infernal. Cada porta fechada um novo reino de terror e tortura.

 

«Sabeis que demónio se nos juntará?» perguntou Greg enjoado por estar de volta ao reino que abandonara.

 

«Infelizmente não.» disse David. «Teremos de procurar.»

 

«Sabeis quantas portas existem?» perguntou então Greg.

 

«Demasiadas para serem contadas.» disse Angela.

 

«Não tantas.» disse Greg. «Mas são demasiadas para andar perdido á procura.»

 

«E apenas poucos de nós conseguem ver as auras.» disse Nuno. «Será dificil encontar quem procuramos.»

 

«Talvez não.» disse Betinha. «Eu posso reduzir a busca.»

 

Betinha concentrou todo o seu poder até apenas o vermelho ser sentido, mas o sangue  era demasiado e por toda a parte. Quando Betinha já começava a perder a esperança teve um pequeno vislumbre de uma aura e descobriu não a sua localização certa mas uma uma área para procurarem..

Todo o grupo se dirigiu para lá com Betinha a tentar conduzi-los o melhor que podia. O caminho era tortuoso, cheio de gritos e portas fechadas.

 

«É nesta área.» disse Betinha ofegante. «Não consigo ajudar mais.»

 

«Já haveis feito muito.» disse Vanessa. «Agora deixai-nos ser nós a procurar.»

 

«Então está por detrás de uma destas portas.» disse Claudino.

 

«É melhor começar-mos.» disse Joana.

 

A primeira porta dava para um quarto ricamente mobilado onde uma fonte brotava do teto.

 

«Não parece muito mau.» disse Candido.

 

«Vós ainda não haveis visto a fonte.» disse Joninhas.

 

No teto pendia o corpo de  um humano preso por ganchos de onde o sangue escorria para o chão até atingir as paredes subir e reentrar no corpo.

 

«Que achais de minha obra de arte?» perguntou o demónio deitado na cama.

 

«Peço-vos perdão pela intromissão.» disse Pequenina. «Não sois quem procuramos.»

 

«Deixai-me então em paz com minha criação.» disse o demónio com um movimento de mão deixando-os sair.

 

O grupo saiu do quarto e dirigiu-as a outra porta. No quarto vários aparelhos de tortura encontravam-se com os seus respetivos torturados. Os seus gritos e lamentos compunham uma canção de agonia e desespero, orquestrada por correntes presas ao braço de um demónio.

 

«Desculpai.» disse David levando todos a sair para a segurança do corredor.

 

«Isto vai ser mais dificil do que julgámos.» disse Ana Raquel.

 

«Aquela porta está aberta.» disse Cristina. «Poderá quer dizer algo.»

 

«Experimentemos.» disse Andreia.

 

Entraram no quarto onde uma jovem os olhava com curiosidade.

 

«Bem vindos.» disse a jovem de olhos verdes e cabelos cor de mel.

 

«Sois o demónio que se juntará a nós?» perguntou David duvidoso.

 

«Assim será.» disse a jovem.

 

«Não pareceis um demónio.» disse Silva.

 

«Não me tenteis Tauren!» exclamou a jovem tronando-se um ser negro de grandes cornos e asas negras como um morcego.»

 

«Desculpai a insolência.» disse Greg intervindo.

 

«Muito bem.» disse a jovem voltando á sua forma humana. «Podeis chamar-me Neuza.»

 

«Bem vinda Neuza.» disse David.

 

«Aiê, obrigado.» disse Neuza. «Eu sou a última dos reinos conhecidos por vós a juntar-se a vós. Irei guiar-vos aos reinos que não conheceis.»

 

«Obrigado Neuza.» disse David.

 

«Não me agradeçais ainda.» disse Neuza. «Os reinos para lá dos Corredores do Caos não são reinos onde alguém deseje ir.»

 

«Nem os Corredores do Caos.» disse Sérgio.

 

«Ponto aceite.» disse Neuza. «Vamos então.»

 

Com Neuza a conduzi-los o grupo saiu dos Corredores do Caos em direção aos reinos desconhecidos.

Após os Corredores do Caos onde o grupo pensava acabar o seu mundo começava um deserto onde uma pequena estrada se estendia.

 

«Onde vai dar esta estada?» perguntou Joana.

 

«Vai dar á Arena.» disse Neuza. «Um reino horrível.»

 

«Que se passa lá?» perguntou Ana Raquel.

 

«A Arena é um grande recinto de luta.» disse Neuza. «Qualquer criatura pode entrar  e são combates até á morte ou desistência, normalmente morte.»

 

«Não me parece um local para procurar-mos alguém para se juntar a nós.» disse Cristina.

 

«Não diria isso.» disse Ivandro.

 

«Concordo.» disse Ganopa. «Será alguém  com experiência em combate.»

 

«Um lutador temível.» disse Sim Sim. «Um oponente de respeito.»

 

«Bah.» disse Duarte. «Consigo vencê-lo de certeza.»

 

«E eu bato-vos aos dois.» disse Candido.

 

«Não me haveis conseguido vencer.» disse Ricardo. «Não vos terei muito respeito.»

 

«A nossa luta foi adiada.» disse Candido. «Mas retomaremos nossa discussão.»

 

«Que discussão?» perguntou Ricardo. «Haveis bebido todo o meu vinho e roubado minha refeição.»

 

«Anões!» exclamou Angela. «Não resistem a comida e bebida.»

 

«Tirando esse defeito.» disse Candido rindo alto. «Sou perfeito.»

 

«Perfeitamente Anão.» disse André rindo ainda mais alto.

 

«Ainda vos corto até ficardes do meu tamanho.» disse Candido.

 

«Ainda vos estico até ficardes do meu.» disse André.

 

E os dois desataram a rir a bandeiras despregadas levando o bom humor até todos os membros do grupo.

 

Em breve estavam em frente á Arena. Um enorme edifício de pedra de onde se ouviam os gritos de uma multidão vibrando com os combates.

Uns guardas de armaduras negras guardavam as portas de entrada.

 

«Bem vindos ao Coliseu, também chamado Arena.» disse um dos guardas.

 

«Se desejardes entrar na Arena de combate segui para a direita. Para verdes os combates segui para a esquerda.» disse o outro.

 

«Obrigado.» disse o grupo enquanto entravam na Arena.

 

Primeiro foram para as bancadas, onde habitantes de todos os reinos observavam a Arena de combate. No centro da Arena um humano com duas espadas enfrentava um demónio.

 

«Não me parece um combate muito justo.» disse Carmen.

 

«E não é.» disse Neuza. «Aquele demónio não tem qualquer hipótese contra o campeão da Arena.»

 

«Aquele estilo...» disse Cristina.

 

«É familiar.» disse David.

 

«Muito familiar.» disse Carmen.

 

«É o estilo de António.» disse Vanessa. «Eu fui treinada naquele estilo.»

 

«Por isso nos parecia tão familiar.» disse David.

 

«Aquele gladiador.» disse Joninhas. «É ele que se deve juntar a nós.»

 

«Temos de falar com ele.» disse Carmen.

 

O combate como Neuza dissera não durou muito tempo, o gladiador humano com dois golpes certeiros matara o seu adversário.

Quando voltou á área de repouso todo o grupo o esperava.