Capítulo 39
«Foi aqui que ele morreu.» disse Catarina tristemente.
«Podeis revelar a história então?» perguntou Cristina.
«Posso.» disse Catarina. «Será melhor que acampemos, pois a história é longa.»
O acampamento foi montado e uma pequena refeição preparada enquanto Catarina se preparava para contar a sua história.
Quando a refeição terminou Catarina começou a contar então a história de António. Contou como ele havia deixado Balad Naran para caçar a culpada da morte de Mashenka. Cláudia fugira para as terras do Oeste. Sempre um passo atrás António corria atrás dela. Por vários reinos se desencontraram, à s vezes por segundos outras por dias. Tanta perseguição começou a pesar em António que teve um acidente ferindo-se tendo de parar em Ungueth para recuperar com Rodolfo.
Cláudia também estava farta da perseguição e resolveu esperar por António nas fronteiras de Alfars Leap. Os dois odiados oponentes enfrentariam-se pela primeira vez. Magia contra espada.
«Enfim vos encontro assassina.» disse António.
«Quem é o assassino agora?» perguntou Cláudia. «Não vindes para me matar?»
«Quero saber porquê?» disse António. «Porquê ela?»
«Para vos trazer até mim.» disse Cláudia.
«Quereis vossa morte?» perguntou António. «Pela minha mão?»
«Não sei de melhor.» disse Cláudia. «A mão amada deverá ser a que traz a morte.»
«Que dizeis vós?» disse António surpreso. «Que loucura vos possui?»
«Eu amo-vos desde que lutámos entre nós.» disse Cláudia. «Só a matei para que não houvesse ninguém entre nós.»
«Loucuras!» exclamou António. «Como podeis pensar que ficaria convosco depois do que haveis feito?»
«Então vinde matar-me.» disse Cláudia. «Prefiro morrer a deixar-vos.»
Cláudia chamou então a si os seus poderes e António desembainhou a sua espada.
António carrgeou sobre Cláudia de espada em riste, mas Cláudia desapreceu numa núvem de fumo para reaparecer por detrás dele e disparar energia na sua direção. António desviou-se das rajadas e atacou de novo, a sua espada rasgou de novo o ar e falhou por pouco.
«Eu quero morrer por vossas mãos.» disse Cláudia. «Mas não ficarei quieta á espera de que me mateis.»
A batalha continuou por dias com intervalos acordados por ambos para descansarem e se alimentarem. Por fim estavam os dois já exaustos tanto fisicamente como mentalmente e pela última vez se enfrentaram
«Senhora, se não vos matar hoje que seja vosso.» disse António.
«Vinde então.» disse Cláudia. «Que seja esta nossa última batalha.»
De novo se atacaram, mas algo estava diferente. Não havia ódio nos seus ataques. António perdera o brilho assassino dos seus olhos sendo este substituido por um respeito por sua adversária e pelo gosto pela batalha. Cláudia sorria ao ver essa mudança durante o dia mas foi uma pequena distração que permitiu a António um golpe final.
A espada cortou o ar com um latido em direção a Cláudia, esta deu-se por vencida e esperou a mesiricórdia desse golpe para acabar a sua vida.
«Não!» gritou uma voz dentro da mente de António. «Não o façais!»
«Que magia é esta?!» perguntou António «Como posso estar a escutar a voz de minha amada Mashenka?»
«É a minha alma que escutais.» disse Mashenka. «Não deveis matar Cláudia.»
«Mas ela matou-vos.» disse António. «Deve sofrer o mesmo destino.»
«Matá-la não me trará de volta António.» disse Mashenka. «E gostais dela, posso vê-lo em vossos olhos.»
«Envergonhais-me senhora.» disse António. «Mas também nunca fui capaz de vos esconder qualquer segredo.»
«Dai-lhe uma hipótese.» disse Mashenka. «Amai-a com todo o vosso coração.»
«Por vós minha amada.» disse António. «Farei o que me pedis.»
«Adeus por ora meu amado.» disse Mashenka.
António parou o golpe a milímetros de Cláudia.
«Levantai-vos senhora.» disse António embainhando a sua espada.
«Que dizeis?» indagou Cláudia.
«Eu afirmei que se não vos matasse hoje seria vosso.» disse António oferecendo-lhe a mão sorrindo. «O sol pôs-se e ainda estais viva.»
«Sereis meu?» perguntou ainda surpresa Cláudia.
«Até quando me quizerdes.» disse António.
Os dois prepararam pela primeira vez um acampamento sorrindo um para outro e nessa noite a pedido de Cláudia consumaram o seu amor.
Dias depois estavam em Alfars Leap onde pediram guarida antes de partir para Zaigonne e visitarem a mãe de Cláudia. Durante a estadia António aproveitara para treinar Cristina, não nas artes da guerra mas sim no aumento da sua força, resistência e destreza. Mas Cristina continuava azarada e trapalhona.
«Cláudia, meu amor.» disse António durante um treino. «Acho que os problemas de Cristina poderiam ser resolvidos se a treinásseis.»
«Treinar Cristina?» perguntou Cláudia. «Achais que resolveria algo? Parece-me um caso perdido.»
«Não sejais assim Cláudia.» disse António. «Há algo de especial em Cristina.»
«O azar?» perguntou Cláudia sob o olhar reprovativo de António. «Estou a apenas a brincar convosco. Farei o que me pedis coração.»
António e Cláudia foram então até onde Cristina estava a treinar.
«Cristina vinde aqui por favor.» disse António.
«Que quereis?» perguntou Cristina.
«Cláudia acedeu a treinar-vos também.» disse António.
«A minha gratidão é imensa.» disse Cristina com os seus olhos verdes brilhando de alegria.
«Não me agradeçais ainda.» disse Cláudia severa. «Quero ver o resultado dos treinos com António.»
Cláudia disparou várias rajadas contra Cristina que embora capaz de se desviar delas caíu por diversas vezes e mais algumas nódoas negras ficaram com ela.
«Humm...» disse Cláudia pensativa. «Tendes razão António. Cristina é de facto especial.»
«Podeis fazer algo?» perguntou António enquanto passava um unguento especial nas nódoas de Cristina.
«Cristina é uma sensitiva.» disse Cláudia. «Os seus sentidos ultrapassam o treino das sacerdotisas e por isso o seu azar. Ela tenta compensar o que sente e perde-se.»
«Então apenas precisa de um melhor treino.» disse António pensativo.
«Sim.» disse Cláudia com um sorriso. «E nisso posso ajudá-la.»
Nos dias que se seguiram Cláudia treinou Cristina até ela atingir o seu potencial psíquico. Quando o seu treino estava completo, António e Cláudia despediram-se da jovem e partiram para Zaigonne.
Durante a viagem algo estava a corroer Cláudia por dentro. Sabia que António ficaria com ela e que a amaria até ao fim mas o espectro de Mashenka estava sempre lá. Os ciúmes que Cláudia nutria por essse fantasma eram maiores dos que sentia quando António treinara Cristina, a quem começou a ver como se de uma filha se tratasse. Começou a tornar-se distante de António e os ciúmes consumiram-lhe o espirito.
«Vós amais mais esse fantasma do que me amais!» exclamou Cláudia.
«Não vos mentirei e direi que a amo.» disse António. «Mas estou convosco agora e espero não vos ter dado razões para duvidardes do amor que vos profeço.»
«Se me amais tanto.» disse Cláudia. «Não deveríeis ser apenas meu e não de um fantasma.»
«Cláudia eu não quero, nem posso esquecê-la.» disse António. «Ela foi o meu primeiro amor, a minha mulher.»
«Perdoai-me António.» disse Cláudia abrindo so braços para o receber. «Perdoai-me os ciúmes e perdoai-me isto também.
Quando António abraçou Cláudia esta tornou suas unhas em garras e rasgou a carne dele deixando-o agonizante no chão enquanto se tornava uma águia e voava para longe.
António ficar sozinho e ferido perto da fronteira de Zhoran.. Com as forças que lhe restavam e com a ajuda do cavalo conseguiu chegar ao grande castelo de Zhoran onde as suas feridas tinham sido tratadas e Vanessa tinha sido sua enfermeira. Para passar o tempo enquanto se restabelecia António começou a treinar Vanessa nas artes de guerra de Balad Naran. Vanessa aprendia depressa e foi uma aluna dedicada. As feridas finalmente sararam e António partiu em busca de Cláudia. Não por vingança mas por amor. Iria ter com ela, pediria perdão e se possível passariam o resto das suas vidas juntos.
Cláudia tinha um grande avanço sobre António. Este cavalgou dias inteiros em direção a Zaigonne . Alguns povos lembravam um cavaleiro que atravessara os seus reinos sem parar nem olhar para ninguém, parte das lendas sobre o cavaleiro fantasma vinham desses encontros, deixando apenas uma pequena nuvem de pó para lembrar a sua passagem. Foi durante esta viagem que António tinha sido contactado por Medusa rainha das Górgonas que em troca de seu treino de Rute o faria chegar a Zaigonne o mais rapidamente possível.
Em Zaigonne visitara com a permição de Manuela a mãe de Cláudia, que lhe disse que ela continuara a fugir para Oeste após uma breve estadia.
António partiu nesse mesmo dia no encalço de Cláudia mas ao chegar á Arena viu-se sem suprimentos ou dinheiro para os comprar. Tornou-se gladiador e mais tarde campeão. Quando já nenhum outro queria lutar com ele, tornara-se mestre de armas e treinarara vários gladiadores e finalmente Gladiador. Podendo comprar os suprimentos que necessitava partíu de novo para Leste até encontrar Cláudia perto da Pedra da Colheita.
«Por favor Claúdia.» implorou António. «Eu quero estar convosco.»
«Por vossa vontade? Ou por vontade desse fantasma que vos acompanha?» perguntou Cláudia.
«Eu amo-vos.» disse António. «Nada mais interessa.»
«Interessa-me.» disse Cláudia. «Vós haveis seguido a vossa morte.»
«A morte pela mão amada é a melhor.» disse António repetindo o que Cláudia uma vez dissera. «Mas não ficarei aqui á espera de morrer.»
De novo os dois amantes se enfrentavam em batalha. Magia e espada de novo em guerra. Foi renhida pois os dois já se conheciam bem. Num momento de distração António foi atingido por Cláudia e ficou ferido e á mercê de sua amada.
«Já não resta nada de vós?» perguntou António. «O ciúme terá destruido tudo da minha amada Cláudia.»
«Porque não consigo matar-vos?!!» exclamou Cláudia colérica. «Se não vos consigo matar então destruirei tudo o que amais. Deixarei Cristina para o fim e matá-la-ei á vossa frente!»
«Não ireis fazer nada disso!» disse António reunindo as suas últimas forças e lançando-se sobre Cláudia fazendo-os cair pelo penhasco abaixo.
Os dois caíam para a morte e as suas mentes falaram uma para a outra.
«António perdoai-me.» disse Cláudia. «Os meus ciúmes destruiram tudo o que podíamos ter sido.»
«Morreremos juntos.» disse António. «O nosso romance terminará como deveria. Juntos para sempre.»
«Tenho um grande arrependimento.» disse Cláudia. «Nunca vos ter falado de nossa filha.»
«Filha?» perguntou António. «Eu tenho uma filha...»
Foi o último pensamento de António, os dois atingiram o chão e equanto o ódio de Cláudia a tornava uma Víuva Voadora os dois corpos ficaram no fundo do abismo para sempre juntos.
«E assim acaba a história de António.» disse Catarina. «Depois disso desapareci pois minha missão tinha terminado. Mas voltei ao castelo com a nova missão de me juntar a vós.»
«É tão triste.» disse Ana Raquel.
A maior parte do grupo estava em entre o silêncio reverente e o choro.
«Adeus meu amigo.» disse Carmen olhando o abismo.
«Adeus meu mestre.» disse Gladiador
«Adeus meu professor.» disse Rute chorosa.
«Adeus meu guarda, meu cavaleiro, meu amigo.» disse David.
Vanessa tentava consolar Cristina que estava inconsolável.
Não se dirigiram para a Pedra da Colheita nesse dia decidindo fazer uma pequena pausa para honrar a morte de seu amigo.