Capítulo 44
O céu da noite estava nebulado, não havia luz que os denunciasse. Evolous levou-os até uma clareira perto de um riacho. Do outro lado um pequeno acampamento à luz das fogueiras estava sonolento e letárgico a guardar a fronteira de Kalil.
«Como passaremos por ali?» perguntou Filipe. «Seremos descobertos rapidamente.»
«Não. Não seremos.» disse Cantante. «Paula podeis ajudar-me?»
«Com certeza.» disse Paula. «O que precisais?»
«Tendes alguma canção para manter as pessoas como que a dormir?» perguntou Cantante.
«Tenho.» disse Paula.
«Então cantai-a baixinho.» disse Cantante. «Eu farei o resto.»
Paula sussurrou então a sua canção enquanto Cantante aumentava a sua influência. O grupo passou pelo acampamento como se de um sonho se tratasse. Quando so guardas acordaram do seu torpor já o grupo ia longe dentro de Kalil.
Kalil era uma enorme savana com pequenos oásis onde as aldeias se situavam. Aldeias essas que não passavam agora de cinzas varridas pelos ventos.
«Malditas criaturas!» exclamou Ivandro.
«É a vossa aldeia?» perguntou Ana Raquel.
«Nasci e cresci ali.» disse Ivandro tristemente.
«Não encontro palavras que vos tragam consolo.» disse Carmen.
«Obrigado na mesma.» disse Ivandro levantando a cabeça. «Talvez seja melhor assim. Sou um proscrito no meu reino. Talvez destas cinzas nasça uma nova vida para mim.»
«Irá de certeza.» disse Raquel. «E iremos criá-la todos juntos.»
Kalil estava abandonado, os animais selvagens tinham destruído o gado e os exércitos de Rashagall apenas vigiavam as fronteiras de um reino vazio.
A fronteira de Arelai começava com uma floresta tropical pouco guardada e o grupo conseguiu passar despercebido e entrar em Arelai sem grandes problemas.
Com Rose a liderá-los em breve estavam perto da costa.
«A minha aldeia parece ter sido poupada.» disse Rose. «Parece intacta.»
«Nem por isso.» disse Jaime. «Olhai para lá da última casa.»
O grupo olhou e para seu horror vários membros da tribo de Rose estavam crucificados.
«Estão a construir algo do outro lado da aldeia.» disse Pequenina. «Algo grande.»
Toda a população da aldeia estava no local a trabalhar madeira, cordas e pano.
«Estão a construir um navio.» disse Solange.
«Um navio de invasão.» disse Rute.
«Margarida falou-nos de nos aproximarmos por mar da ilha de Rohjar.» disse André.
«Talvez por ser impossível por ar os exércitos de Rashagall estão a obrigar o povo de Arelai a construir este navio.» disse Ana Raquel.
«Isso vem faclitar-nos as coisas.» disse Tanuska sorrindo.
«Vem?» perguntou Diana.
«Acho que Tanuska quer piratear um navio de guerra.» disse Soraia.
«Exatamente.» disse Tanuska.
«Cuidado.» disse Filipe. «Temos que pensar nas consequências para o povo de Arelai.»
«Eles precisam do povo de Arelai para lhes construir o navio.» disse Pequenina. «Se está completo não irão precisar do povo por muito mais tempo.»
«Então se lhes roubarmos o navio eles precisarão de usar o meu povo.» disse Rose. «O meu povo viverá.»
«Em escravidão.» disse Ivandro.
«Mas viverá!» exclamou Rose. «Escravos podem ser libertados, mortos não podem voltar á vida. Sem querer ofender-vos Sérgio.»
«Não me haveis ofendido.» disse Sérgio.
«O navio está pronto a navegar.» disse Carmen. «Devem estar apenas à espera de tropas para a invasão.»
«Então devemos agir o mais rápido possível.» disse Joana. «Não sabemos quando as tropas de invasão poderão chegar.»
«Esta noite e o dia seguinte vigiaremos as defesas do navio e de noite atacaremos.» disse David.
O grupo fez turnos a vigiar os anjos que vigiavam o grande navio. Não eram muitos. A maioria ficava de guarda ás casas tribais evitando a fuga dos seus trabalhadores.
«Um ataque concentrado aos guardas acabaria com a resistência quase de imediato.» disse Andreia.
«Mas traría os guardas das casas rapidamente.» disse Lina. «Precisamos de algo que os distraia.»
«Eu posso arranjar isso.» disse Sérgio. «Com a permissão de Rose reviverei os cadáveres crucificados e farei uma diversão.»
«Fazei isso.» disse Rose. «Sei que não desrespeitareis a sua memória.»
«Arqueiros a postos.» disse David. «Atacarão assim que os guardas se afastarem para adiversão causada por Sérgio.»
Todos se colocaram em posição e a espera começou. Quando os membros da tribo de Rose voltaram a suas casas, já de noite, Sérgio iniciou o seu encantamento.
Á sua volta começou a formar-se uma névoa negra enquanto as palavras que entoava se tornavam mais altas e ameaçadoras. Os seus gestos evocavam a vitória sobre a morte e em breve os membros inertes dos mortos voltavam a mover-se. Sérgio completara o seu encantamento e os mortos da tribo de Rose eram seus novos servos.
«Atacai os anjos!» ordenou Sérgio, os seus olhos brilhando com uma luz fantasmagórica verde e a sua voz fria como o gelo.
«Fazei-me um favor.» disse Joana.
«O quê?» indagou Vanessa.
«Nunca me deixeis desaver-me com Sérgio.» retorquiu Joana.
«Tendes a minha promessa.» disse Vanessa com um arrepio.
Vagarosamente os membros da tribo e Rose aproximaram-se da aldeia semeando o pânico entre os habitantes e os anjos que os guardavam. Quando estes começaram a defender a aldeia. Diana, Patrícia, Cristina e Angela silenciaram os guardas do navio e todos correram para o tomar. Após uma pequena escaramuça o navio pertencia ao grupo e estava pronto a zarpar.
Do porão sairam então vário anjos mas Jaime despachou-os com a sua arma.
«Vedes como a Cho-ku-no é uma boa arma.» disse Jaime.
«Agora não é o momento Jaime.» disse Diana.
«Temos o navio controlado.» disse Ana Raquel. «Mas alguém sabe como comandar um navio deste tamanho?»
«Nós de Balad Naran aprendemos a navegar ao mesmo tempo que aprendemos a andar.» disse David.
«O mesmo connosco de Vulkir.» disse André. «Ensinar-vos-emos tudo o que precisam de saber.»
«E eu comandarei o leme pois conheço estas águas.» disse Rose.
«Cortem as amarras. Levantem a ancora.» ordenou David.
Ganopa cortou as cordas que prendiam o navio ao porto e João com a sua força rodou sozinho a roda da ancora retirando-a das águas.
«Defraldem as velas.» comandou David.
«Com André a comandar as velas foram desfraldadas e Solange ordenou um vento que os levou rapidamente do porto.
Rose então levou o navio por entre os baixios até à segurança do alto mar.