Capítulo 48
Rodolfo e Tanuska saíram para luz numa pequena clareira nos jardins reais.
«Belas companhias tinham as irmãs.» disse Rodolfo.
«Não julgueis o que não conheceis.» disse Tanuska. «Mostrai-me para onde ides no mapa.»
«Ficarei com o Norte e Este.» disse Rodolfo.
«Quando algum terminar o reconhecimento libertará um sinal.» disse Tanuska.
«De acordo.» disse Rodolfo saltando e desaparecendo por entre as árvores.
Tanuska começou então o seu reconhecimento correndo os telhados da capital. Os anjos vigiavam as janelas e as ruas e por isso pôde passar despercebida. Não conseguiu encontrar nenhum indício de Beatriz, mas encontrou num grande pátio muitos querubims a praticar. Tanuska marcou no mapa a localização de tudo o que encontrara e voltou para a entrada das cavernas. Uma vez lá chegada libertou uma borboleta e deixou-a livre para encontrar Rodolfo.
Rodolfo tinha tido mais sorte. O seu reconhecimento tinha encontrado o edifício onde as crianças eram mantidas antes de sua transformação. Perto dalí uma grande guarnição de anjos guardava o local. Enquanto observava a borboleta de Tanuska pousou sobre ele.
«Hum...» disse Rodolfo. «Tanuska encontrou o centro de treinos de querubims. Que faz aquele ali?»
Um homem andava escondido pelos edifícios tentando chegar às crianças. Por várias vezes quase fora descoberto, não fosse Rodolfo criar pequenas diversões para os anjos. Quando finalmente o apanhou retirou-o das ruas.
«Que pensais estar a fazer?» perguntou Rodolfo.
«Tenho de retirar as crianças dalí.» disse o homem a medo.
«Estais louco?» disse Rodolfo. «Que achais que podeis fazer contra tantos anjos?»
«Por favor ajudai-me.» disse o homem com os olhos rasos de água colocando-se de joelhos. «Esta noite é propícia à criação de querubims. Todas aquelas crianças inclusivé a minha Beatriz serão transformadas.»
«Beatriz?» perguntou Rodolfo surpreso. «Filha de Tânia de Meneloth?»
«Conheceis Tânia?» perguntou o homem.
«Ela foi quem me enviou para procurar Beatriz.» disse Rodolfo. «Mas se o que dizeis é verdade, não posso perder mais tempo a resgatá-la.»
«Não podemos resgatar apenas Beatriz.» disse o homem recompondo-se. «Não podemos deixar as pobres crianças a um destino tão cruél.»
«Eu consigo manter uma criança calada durante o caminho.» disse Rodolfo. «Não todas as que se encontram alí fechadas.»
«Por favor.» disse o homem. «Não podemos deixá-las.»
«Muito bem.» disse Rodolfo. «Precisarei de vossa ajuda para manter as crianças em silêncio. Tendes um nome?»
«Chamai-me Fábio.» disse o homem. «E podeis contar com minha ajuda.»
Rodolfo e Fábio entraram no edifício em completo silêncio.
As crianças dormitavam febrilmente, com medo do que viria. Rodolofo e Fábio foram de criança em criança acordando-as e mantendo-as silenciosas, pedindo às mais velhas que ajudassem as mais novas. Fábio pegou então em Beatriz ao colo e indicou a Rodolfo que tudo estava pronto.
«Muito bem.» sussurrou Rodolfo. «Quando ouvirdes uma grande comoção parti para as grutas no pátio do castelo, minha companheira saberá o que fazer.»
«E vós?» perguntou Fábio.
«Eu irei para lá mais tarde.» disse Rodolfo. «Não vos preocupeis comigo.»
Rodolfo foi para o telhado e libertou a borboleta de Tanuska que partiu na doireção de sua mestra com uma mensagem de Rodolfo.
Rodolfo fez então barulho suficiente para atraír toda a guarnição de anjos até á sua posição e o começassem a perseguir pelos telhados de Meneloth. Fábio aproveitou toda a confusão causada por Rodolfo para se dirigir para o palácio com as crianças.
Tanuska recebeu a sua borboleta de volta com alegria mas a mensagem que ela trazia tirou-lha.
Rodolfo avisava-a que Fábio, pai de Beatriz, se dirigia para ela com as crianças aprisionadas e lhe pedia que dissesse a David que sua promessa estava cumprida e o dissesse a seu povo.
Rodolfo levava os anjos para longe das crianças, numa perseguição louca pelos telhados. Sabia ser esta sua última missão, talvez a mais altruista de sua vida. Ele, Rodolfo de Ungueth, o mercenário mais caro do mundo conhecido, ladrão, assasino e espião estava prestes a dar a sua vida de graça por crianças que nem eram do seu povo e por companheiros que a maior parte da sua vida odiara.
Sob a sua máscara negra, esboçou um sorriso. Desembaínhou a sua espada e enfrentou a morte pela última vez. E assim terminou a história e Rodolfo de Ungueth.
Fábio conseguiu levar as crianças até ao castelo, mas às portas deste foi recebido por um destacamento de anjos.
«Soltai as crianças e recebai vosso justo castigo.» disse uma ordem que liderava os anjos.
«Malditas criaturas!» exclamou Fábio. «Deixai nossas crianças em paz! Não chegou já o que haveis feito?»
«Nossa Deusa assim o ordena.» disse a ordem. «Morrereis e vossas crianças tornar-se-ão novos querubims.»
«Não!» exclamou Tanuska caindo do telhado lançando as suas shuriken sobre os anjos. «Nem nesta noite, nem nunca!»
A surpresa foi total e Fábio aproveitou para levar as crianças para o jardim real perto das grutas. Tanuska seguia na retaguarda mantendo os anjos à distância.
«Entrai nas grutas!» gritou Tanuska. «Eu impedilos-ei de vos seguirem!»
«E vós?!» perguntou Fábio enquanto liderava as crianças para dentro das grutas.
«Dizei a David que Rodolfo cumpriu sua promessa e que eu completei minha missão!» exclamou Tanuska.
Fábio correu para dentro das grutas enquanto Tanuska se mantinha firme na entrada.
«Se procurais a morte!» gritou Tanuska desafiante. «Vinde até mim!»
Os anjos não se fizeram rogados e carregaram sobre Tanuska. Só tarde demais viram os explosivos na entrada das grutas e o sorriso de troça de Tanuska ao puxar o rastilho ao detoná-los. Toda a entrada desabou levando os anjos e a jovem de Parmétika numa chuva de pedras e pó.
Fábio levou então as crianças até ao acampamento do grupo...