Capítulo 49

«Beatriz! Fábio!» gritou Tânia abraçando os dois e beijando a sua filha que há tanto tempo lhe havia sido tirada. «Tive tantas saudades vossas. Mas onde estão Rodolfo e Tanuska?»


«Deram a sua vida para salvar as crianças.» disse Fábio tristemente. «Foi um nobre sacrifício.»


«Nobre, não seria palavra que associaria a Rodolfo.» disse Soraia. «Mas devo reconhecer a nobreza de seus atos.»


«Cumpriu sua promessa.» disse David solenemente. «Direi a seu povo de seus atos.»


«Como estais Diana?» perguntou Jaime. «Vós e Tanuska sempre foram muito próximas.»


«Perdi uma irmã de armas.» disse Diana de lágrimas nos olhos. «Mas perdi também uma amiga leal e uma irmã para mim.»


«Não os esqueceremos.» disse Ana Raquel. «Os seus atos serão lembrados por todos até ao fim dos tempos.»


«Podeis dar-me essa borboleta?» perguntou Angela a Tânia.


«Que borboleta?» indagou Tânia.


«Essa no cabelo de Beatriz.» disse Angela. «É uma das de Tanuska.»


Angela retirou a borboleta do cabelo de Beatriz e descobriu um pequeno mapa no inseto.


«É um mapa das loclaizações das guarnições na capital.» disse Angela sorrindo.


«Isso é ótimo.» disse Bichana. «Poderemos atravessar a capital sem problemas.»


«Podemos fazer melhor que isso.» disse Joaninha. «Se libertar-mos os Auroques dos estábulos podemos aniquilar as guarnições e passar na confusão.»


«Falais como se alguma vez o tivesses feito.» disse Luís.


«E fizémos.» disse Joaninha olhando para Tânia com um sorriso matreiro.


«É verdade.» disse Tânia corando um pouco. «Pusemos a capital em alvoroço.»


«É um bom plano.» disse Cantante. «Mas a capital deverá estar em alerta total depois desta noite.»


«Decerto que sim.» disse Sérgio. «Teremos que esperar um pouco.»


«E de colocar as crianças em segurança.» disse Vanessa.


«Sim.» disse Cristina. «Deve ser essa a nossa prioridade.»


«Eu leválas-ei para um lugar seguro.» disse Fábio. «Vireis connosco?»


«Eu...» disse Tânia olhando para David.


«A decisão é vossa.» disse David. » Nenhum de nós vos reprovaria por ficardes com vossa filha.»


«Eu não posso.» disse Tânia tristemente. «Fábio mantei nossa filha em segurança.»


«Tânia mas porquê?» perguntou Fábio


«Porque o devo a Rodolfo e Tanuska.» disse Tânia muito séria. «Eles deram a sua vida por Beatriz, eu cumprirei a sua missão salvando este mundo.»


«Entendo.» disse Fábio resignado com a decisão. «Voltai depressa por favor.»


«Farei tudo por isso.» disse Tânia com um sorriso. «Hoje quero passar todo o tempo possível convosco e Beatriz.»


Nos dias que se seguiram Fábio partiu com as crianças enquanto o grupo se preparava para atravessar a Capital de Meneloth.


«Depois de sairmos de Meneloth para onde iremos?» perguntou Ivandro.


«Para as montanhas de Aluhja.» disse David. «E para a chave do Norte.»


«Mas como chegaremos à capital?» perguntou Ana Raquel.


«Sim.» disse Andreia. «Tanuska rebentou com a entrada do palácio.»


«Existem mais saídas.» disse Joaninha. «Uma das quais sai mesmo para os estábulos e duvido que aí estejam muitos anjos.»


«Teremos de tentar.» disse Pequenina.


O grupo desmontou o acampamento e adentrou pelas grutas sob a liderança de Tânia e Joaninha. Saíram no interior dos estábulos, onde de acordo com o plano das irmãs puseram o plano em marcha.
Os portões foram abertos e Cantante enviou um apelo silencioso aos Auroques que de imediato se puseram em debandada causando destruição e pânico aos anjos por toda a capital.
No meio da confusão criada o grupo passou despercebido saindo de Meneloth e dirigiram-se para as montanhas de Aluhja.
No entanto as suas ações influenciaram mais do que Meneloth. As manadas sem uma ordem de parar, por Cantante, continuaram a sua marcha para lá das fronteiras de Meneloth e foram embater na retaguarda dos exércitos de Rashagall provocando uma distração suficiente grande para que os exércitos do Norte da Aliança conseguisse uma grande vitória e avançasse até Menloth libertando todo o reino.
O grupo continuava a sua viagem pelas montanhas de Aluhja, à procura da chave do Norte.
No plano dos Deuses, Zerathull estava felicíssimo com a vitória em Meneloth.


«Grande vitória!» exclamou Zerathull. «Mas porque não continuam o ataque?»


«Irmão.» disse Tassadar. «David quererá reforçar o lado Norte antes de se lançar sobre os outros exércitos.»


«Eu não esperaria.» disse Rashagall.


«Decerto que não irmã.» disse Artanis. «Mas ainda não haveis sido vencida.»


«Mas serei ou vencerei.» disse Rashagall. «Nada o pode impedir.»


No plano mortal o grupo tentava seguir o mapa que Xana lhes tinha fornecido para encontrarem a chave do Norte. Na sua procura deram com um pequeno povoado perdido no meio das escarpas.


«Que sítio estranho para uma aldeia.» dise Bruno.


«Não mais do que andar perdido nas montanhas de Aluhja.» disse um jovem forte de cabelo curto e negro com um sorriso aberto e franco.


«Tendes razão senhor.» disse Cristina. «Mas temos boas razões para isso.»


«Chamai-me Cláudio.» disse o jovem. «Sou, digamos, um protetor da aldeia.»


«Sois mais do que isso.» disse Cantante.


«Porque dizeis isso?» perguntou Cláudio surpreendido.


«Vossa armadura possui o simbolo de Rashagall.» disse Lina.


«Vossa espada é uma das Iras.» disse Pequenina.


«E tendes os cotos de vossas asas nas costas.» rematou Cantante.


«Cláudio é um anjo?» perguntou Soraia pondo-se em guarda.


«Fui.» disse Cláudio. «Arranquei minhas asas quando abandonei Rashagall e fugi para estas terras.»


«Haveis vindo só?» perguntou Ana Raquel.


«Não.» disse Cláudio. «O meu regimento rebelou-se e fugiu.»


«Pensei que os anjos fossem obrigados a seguir os mandatos de sua Deusa.» disse Neuza.


«Tal como vós demónio.» disse Cláudio. «Mas que vos trás a estas terras?»


David explicou sua missão ao anjo.


«Existe uma pessoa na aldeia que vos poderá ajudar.» disse Cláudio. «Vinde comigo.»


Claúdio levou-os atá à aldeia, onde os seus habitantes mostravam os seus cotos onde anteriormente estariam as belas asas de anjo.


«Ali está quem vos poderá ajudar.» disse Cláudio fazendo sinal a uma pequena jovem loura para se lhe juntar.


«Que posso fazer por vós Cláudio?» perguntou a jovem.


«Estes estrangeiros procuram a chave do Norte.» disse Cláudio.


«O meu nome é Joana.» disse a jovem apresentando-se. «Mas todos me chamam de Braga. Vós procurais minha irmã.»


«Vossa irmã?» indagou Cristina incrédula.


«Minha irmã é a chave do Norte.» disse Braga orgulhosa. «Ela falou-me que um dia um grande grupo de estrangeiros viria à sua procura.»


«Podeis levar-nos a ela então?» indagou Fábio.


«Amanhã levar-vos-ei lá.» disse Braga. «Durante a noite o caminho é muito traiçoeiro.»


«Convido-vos então a cear e a disfrutar da hospitalidade de minha aldeia.» disse Cláudio.


«Aceitamos de bom grado.» disse David.


«Preparai um banquete!» disse Cláudio fazendo os seus conterrâneos correr numa balburdia organizada para prepararem o banquete.


A noite caíu e o grupo sentou-se na grande mesa ao ar livre com os seus novos aliados.


«Podeis dizer-me o porquê de haverdes abandonado o serviço a Rashagall?» perguntou Freira.


«Devido ás ações de Rashagall.» disse Cláudio solene. «Quando decidiu a destruição de aldeias inocentes. Alguns de nós não conseguimos obedecer mais e rebelámo-nos.»


«Mas a Deusa deve ter tido as suas razões.» replicou Freira.


«Sabeis as razões.» disse David tentando por fim à conversa.


«Sabemos o que nos foi dito por Nexus.» disse Freira. «E pelos lordes do Caos.»


«Também duvidais de Senhora Artanis?» indagou David.


«Ela me dirá.» disse Freira. «Mas a sua aliança com os lordes do Caos abona pouco em sua defesa.»


«Abona mais do que julgais.» disse Cláudio. «Se esta aliança não tivesse existido, Rashagall já teria destruído todos os reinos da Luz.»


«Mas não falemos de coisas tristes.» disse André. «Nós conseguiremos virar a maré.»


«Espero que sim.» disse Cláudio.


O resto da noite foi passada em celebração e na manhã seguinte todos se preparavam para seguir Braga até à chave do Norte.