Capítulo 53
Carmell estava diante deles. Uma enorme montanha onde uma cidade brilhante no seu cume os separava dos reinos dos Anjos.
«Ainda se mantem.» disse Freira. «Eu sabia que Rashagall nunca iria destruir a cidade a si dedicada.»
De fato os torreões de Carmell pareciam intactos e brilhavam ao sol como haviam feito por milhares de anos.
O grupo começou a subida da montanha com todo o cuidado, tentando evitar qualquer armadilha. À frente, Freira seguia destemida. Ela sempre acreditara que Rashagall não tinha perdido todo o seu senso. Que a Deusa ainda podia ser convencida a desistir do seu intento e poupar Carmell era o indício de que tinha razão. Que tudo ainda podia voltar ao normal. Mas o destino é cruél e os Deuses não se compadecem com os pequenos desejos de simples mortais.
Os dois torreões brilhantes eram as únicas estruturas da cidade que ainda se mantinham de pé, tudo o resto tinha sido reduzido a escombros brilhantes.
«Não!» chorou Freira caindo de joelhos. «Não pode ser!»
«Está mais destruída que todas as outras cidades.» disse David incrédulo.
«Estou a ouvir algo.» disse Pequenina.
«Avancemos com cuidado.» disse Cláudio.
O grupo liderado pelas Elfas e Claudino aproximaram-se do ruído... Alguém enchia um buraco e depois colocou uma pedra sobre o que havia enchido.
«João, orador a Rashagall do segundo templo.» disse o homem forte em frente à pedra que colocara.
«Ireis pagar pela destruição que haveis causado!» exlamou Freira com a sua espada em riste.
«Freira, esperai!» gritou Sérgio. «Não o façais!»
«Porquê?!» gritou Freira enraivecida. «Porque deverei poupar esta vida?!»
«Porque ele está honrar os mortos e não a desonrá-los.» disse Sérgio. «Olhai.»
Atrás do homem estendia-se um jardim de pedras que cobria toda a área entre os escombros dos templos.
«Sagradas Deusas!» exclamou Cristina.
«Não pode ser!» gritou Freira caindo de joelhos. «Não sobreviveu ninguém?»
«Nem uma alma.» disse o homem de constituição forte, moreno e com um corte de cabelo peculiar, Uma linha de cabelo seguia da testa até à nuca sendo o resto rapado. «Quando me foi dada a incumbência de guardar a cidade os corpos estavam espalhados pelos escombros. As suas faces mostravam a alegria de ver Anjos, a surpresa do ataque, o horror da carnificina e até mesmo aceitação de um castigo divino do qual não eram merecedores. Mesmo sendo um Horadrim, isto não tem justificação. Algo em mim mudou nesse dia e desde então comecei a honrar os habitantes de Carmell.»
«Obrigado.» disse Freira. «E desculpai minha fúria.»
«Perfeitamente justificável, senhora.» disse o homem. «Podeis chamar-me Sílvio.»
O grupo apresentou-se a Sílvio e contou-lhe sua missão.
«Sei que não tendes razões para isso.» disse Sílvio. «Mas deixaríeis que vos acompanhasse? Não conheço melhor maneira de honrar os de Carmell do que ajudar-vos em vossa missão.»
«Que dizeis vós?» perguntou David.
«Embora sejamos inimigos mortais, parece que Sílvio é sincero em suas palavras.» disse Sérgio. «Não porei objeções à sua participação.»
«Nem eu.» disse Freira.
Todos concordaram e o grupo partiu de Carmell em direção à região de Nefalim, o grande reino dos Anjos.
«Poderemos mesmo confiar em Sílvio?» perguntou Cantante em surdina a Evolus.
«O coração humano é estranho.» disse Evolus. «Santos escondem monstros dentro deles e até os piores asssasinos podem ter ações do mais puro altruísmo. Só o tempo dirá, mas por ora não temos motivos para não confiar.»
«Tendes razão.» disse Cantante. «Mas como aprendemos a reconhecer o que vai no coração de cada um?»
«Podeis levar uma vida inteira e não saber.» disse Rute juntando-se à conversa. «Ou com um olhar saber tudo.»
«É assim tão difícil?» indagou Cantante.
«Bastante, pequena.» disse Angela. «Com todo o tempo que vivem, nem os elfos conseguem perceber o coração humano.»
«Enquanto fui serva aprendia a reconhcer com quem devia ou não falar.» disse Vera. «Mas nunca consegui essa habilidade de conhecer o coração.»
«Parece uma habilidade impossível.»
«Digamos antes improvável.» disse Evolus rindo.
«Acho que é a melhor forma de a descrever.» disse Angela rindo também.
«Vera posso perguntar-vos algo?» indagou Rute.
«Acabais de o fazer.» disse Vera rindo.
«Vossas armas...» começou Rute.
«Os Chackrams?» disse Vera surpreendida.
«Sim.» disse Rute. «Porque eram proibidos em vosso reino.»
«É uma história triste.» disse Vera tristemente. «A minha senhora era a filha de Boadiceia, uma mestra na arte dos Chackrams. Foi com ela que comecei a praticar, imitando os seus movimentos. Mas os Chackrams são armas perigosas sobretudo a cavalo. Numa cavalgada um dos seus Chackrams cortou o suporte e a sela e a minha senhora caiu sobre o outro Chackram.»
«Deusas que tragédia.» disse Rute horrorizada.
«Boadiceia ficou tão entristecida pela morte de sua filha que proibiu o uso dos Chackrams.» continuou Vera. «Mas eu apenas sabia como usar os Chackrams. A espada e a lança sempre me atrapalharam. Como a maioria dos Chackrams haviam sido destruídos, trenei com tampas de panela os movimentos que conhecia. Depois fiz algo que pensei nunca ter coragem para fazer, entrei no quarto de minha senhora e roubei o livro de técnicas que ela escrevera. Nele descobri novos movimentos e uma maneira nova de proteger quem os utiliza. Sózinha comecei a treinar os novos movimentos e quando haveis pedido a minha ajuda estava pronta a derrotar a minha adversária.»
«Esses Chackrams...?» perguntou Rute.
«Eram de minha senhora.» disse Vera respeitosamante. «As proteções que tenho são baseadas nos seus desenho, algo que lhe podia ter salvo a vida se tivessetido tempo para os completar.»
«Acho que é uma honra para ela estardes a usar suas armas e seus desenhos para proteger vidas.» disse Rute orgulhosa.
«Tendes razão.» disse Vera sorrindo. «É uma homenagem a sua memória.»
O grupo continuou a viagem para Nefalim.