Capítulo 64


Filipe estava ainda só frente a um exército de anjos.


«Ireis ajudá-lo?» perguntou a sombra de Evolous a Filipa.


«Eu quero.» disse Filipa. «Mas não sei se ele aceitaria a minha ajuda.»


«Então perguntai-lhe.» disse a sombra dissipando-se.


«Filipe. Posso ajudar-vos?» perguntou Filipa a medo.


«Filipa? Que fazeis aqui?» indagou surpreso Filipe. «Que podeis fazer comigo contra todos estes anjos?»


«Posso fazer isto.» disse Filipa.


A jovem Spritle começou a brilhar e a armadura e a arma de Fiipe ficaram de novo como novas. Mas Filipa ainda não terminara. Usando todo o seu poder Filipa usou a areia da batalha para criar um exército de soldados para combater ao lado de Filipe.


«Obrigado Filipa.» disse Filipe sorrindo. «Haveis-me devolvido a minha coragem. Vencendo ou perdendo vou sair corajosamente.»


Filipe elevou a sua espada aos céus e com um grito de guerra avançou sobre os surpresos anjos que não esperavam um exército atacando-os. O embate foi rápido  devastador. Os anjos desapareceram e Filipe e Filipa ecncontravam-se de novo com Evolous e Pipu no grande salão.


«Que se passou?» perguntou Filipe.


«Haveis passado no teste.» disse Evoulus.


«Haveis sido libertado do controlo de Marco.» disse Pipu. «Agora teremos de esperar até os outros se libertarem ou se perderem para sempre nos seus medos ou desejos.»


Ana Raquel continuava perdida nos túneis de Menell. A sua mente cada vez mais confusa, um medo irreal crescia dentro dela, uma sensação de perda que nada podia aplacar. Um labirinto sem fim onde estaria para sempre perdida. Ana Raquel sabia que procurava algo ou alguém nos túneis, mas não se lembrava de quem  ou do quê.  Ao deambular Ana Raquel começou a ver uma sombra que a seguia. Não era a sua sombra mas também não havia mais nínguem que a pudesse projetar. Ana Raquel parou mas a sombra continuava a mover-se. Ana Raquel seguiu-a por entre vários cruzamentos . Ana Raquel pensou mesmo que estava a ficar louca. Estava a perseguir uma sombra no meio dos tuneis de Menell. Mas quanto mais a seguía  mais certeza tinha que iria encontrar o que procurava. Depois de horas de perseguição Ana Raquel começou a notar que ela conseguia prever o caminho, talvez não só prever mas talvez criar o seu caminho. A sombra estava agora tão perto dela que ela podia ver a sua silhueta completa. As asas, a cauda, a cabeça alongada... Um sorriso aflorou os lábios de Ana Raquel. Internamente  agardeceu pela benesse dessa sombra amiga e continuou o seu caminho criando o próprio tunel onde se encontrava até encontrar o que procurava... uma pequena criança que a esperava... a sua Laura Carolina... e Ana Raquel voltou ao grande salão feliz por ter encontrado o que tanto procurava.


«Estais Bem Ana Raquel?» perguntou Evoulus.


«Estou.» disse Ana Raquel sorrindo docemente. «Obrigado.»


«Sempre ás vossas ordens.» disse Evoulus com o que parecia ser um sorriso na face.


Bichana continuava na sua vida de cativa. Os dias seguiam-se em rotina sem sentido ou direção enquanto Bichana cada vez mais se sentia indiferente ao que se passava. De noite era junta com as outras criaturas enquanto o circo viajava de cidade em cidade.


«Gata.» disse uma criatura pequena e negra com uma pequena cauda saracoteante. «Que fazeis aqui?»


«O mesmo que vós criatura.» disse Bichana. «Sou exibida como um troféu para gaúdio dos nossos visitantes.»


«E porque o fazeis?» perguntou a criatura virando-se para bichana mostrando um rosto liso sem feições além de uma pequena boca com dentes pontiagudos.


«Como assim?» perguntou Bichana surpreendida por tal pergunta.


«Eu fico aqui por ser mais seguro para mim.» disse a criatura. «Lá fora de certeza me tomariam por um demónio e seria destruído. Vós não.»


«Eu sou uma Aelfwine.» disse Bichana com orgulho.


«Isso significa que sois um gato de verdade, como os de Bast?» perguntou a criatura de forma sarcástica.


«Não.» disse Bichana. «Não sou.»


«Então o que sois?» perguntou quase como uma afirmação a criatura.


«Hmmmm....» disse Bichana pensando. «O que dizeis é muito verdadeiro...»


Bichana fez então o impensável. As suas mãos dirigiram-se para os seus pulsos e libertaram-se das suas garras. Depois fez o mesmo com as suas garras nos pés. Tirou então a sua bandelete onde ficavam as suas orelhas de gato ligadas ás suas orelhas humanas. Retirou então o seu focinho falso e as suas vissibras e por fim retirou os seus dentes de gato. Bichana era agora completamente humana, tão despida da sua forma de gata como quando nascera.


«Sentis-vos diferente?» perguntou a criatura.


«Sinto-me nua.» disse Bichana.


«Mas sentis-vos diferente?» perguntou a criatura novamente.


«Eu sou Bichana e sempre serei.» disse Bichana pensativamente. «Apenas não o pareço.»


Bichana foi expulsa do circo pois não daria lucro ao ser exibida como uma humana. Depois do circo se afastar. Bichana voltou a colocar os seus implantes novamente e voltou ao salão com uma confiança muito maior em si mesma e no que seria no futuro.


Andreia estava ainda em Kyra olhando para a desolação doe seu lar.


«Isto aconteceu...» disse Andreia triste.


«Porque vós haveis decidido partir e brincar aos herois em vez de ficardes e protegerdes o vosso lar.» disse uma voz por detrás dela.


«Quem me dirige a palavra?» disse Andreia olhando para trás. «Vós?»


Diante de si estava o seu capitão usando um uniforme de Rashagall.


«Sem vós a nossa defesa desfez-se.» disse o Capitão. «A nossa única saída render-mo-nos ou morrer.»


«E já vi a vossa decisão» disse Andreia colérica.


«Sem vós não havia saída.» disse o Capitão. «Tive de executar muitos dos nossos que não quiseram pensar em manter Kyra viva.»


«Kyra não está viva!» exclamou Andreia. «Não passa de ruínas sem nínguem. Haveis ficado só e louco neste inferno de ruínas.»


«EU sou Kyra!» gritou o Capitão. «E vós não ireis destruir tudo o que fiz por meu reino.»


«Estais louco.» disse Andreia. «Nenhum de nós é Kyra. Kyra é parte de nós.»


«Blasfémia!» gritou em fúria o Capitão. «Ireis morrer pelas minhas mãos.»


Andreia temia este confronto mais que tudo. O seu Capitão, o homem que lhe ensinara tudo era agora seu inimigo. Como podia ela conseguir derrotar o seu mestre. Mas algo dentro dela também recusava perder para aquele louco que se movia para lutar com ela. O seu martelo de guerra movia-se como se tivesse via própria e preparou-se para o embate. Os goples sucediam-se soltando faíscas sobre as ruínas. O capitão atacava loucamente enquanto Andreia se defendia ferverosamente.  A batalha durou largas horas sem haver um vencedor. Todo o reportório de goples havia sido usado e defendido por ambos os combatentes e o cansaço instalara-se á muito nos seus corpos, embora o Capitão parecesse possuído por uma energia inesgotável continuasse o seu ataque. Andreia havia sido encostada á parede da última muralha de Kyra ainda de pé.


«Estais pronta para vosso castigo?» perguntou o Capitão. «Foi nesta parede que vos dei lição apos lição. Será um final deveras sublime que onde haveis começado vossa vida de guerreira será onde tombareis também.»


«Eu já não sou a jovem guerreira que vos temia durante os treinos e aprendi a usar tudo ao meu alcance para vencer.» disse Andreia voltando-se para a muralha e atacando um pequeno ponto.


«Que fazeis?» perguntou o Capitão surpreso.


«Uma pequena sombra mostrou-me algo que já não me lembrava.» disse Andreia atacando novamente o ponto na muralha e quebrando parte da parede que desabou sobre o Capitão. «Kyra vive em mim e voltarei a fazer dela um reino que orgulhe os seus habitantes.»


Andreia voltou ao salão com o seus sorriso de novo no rosto e a sua confiança ainda mais forte.


Ganopa estava a defrontar o Dragão que formava a suia antiga armadura.


«Pequeno mortal...» disse o Dragão. «Como pensas enfrentar-me?»


«Como coragem e bravura.» disse Ganopa um pouco a medo.


«Estais a tentar convencer-me disso, ou a vós.» disse o Dragão com um riso maléfico.


«Não preciso de convencer nínguem.» disse Ganopa resoluto. «Haveis sido derrotado uma vez. Podeis ser derrotado de novo.»


«Mas não por vós homenzinho.» disse o Dragão gozando com Ganopa. «Ireis morrer agora por vossa presunção de me usardes como armadura.»


«Eu aceitei vosso pedido para vos usar.» disse Ganopa resoluto. «Eu não vos uso como armadura por presunção, apenas por necessiade.»


«Sois um jovem de coragem.» disse o Dragão.« Mas a coragem apenas leva a uma morte jovem.»


«Sou também um homem de fé.» disse Ganopa. «E essa fé pode fazer o impossível.»


O Dragão lançou-se sobre Ganopa que contra todo o sentido e sanidade deixou cair as suas armas e abriu os braços para acolher o ataque do seu inimigo. O embate foi terrível e quando o pó baixou Ganopa estave de novo na sua armadura e de volta ao grande salão.


Carmen continuava a viver a sua vida de escrava dentro da nova sociedade de Krondana. Ela sabia que tudo estava mal mas não conseguia encontrar forças para lutar contra a situação. Mas no no seu íntimo a revolta crescia e crescia. Em segredo começou a recrutar e a treinar as suas irmãs em luta e em breve tinha á sua disposição um verdadeiro exército e com ele começou uma luta para devolver Krondana ao seu estado antigo. Com a sua vitória veio o desejo de consolidar o seu poder. Carmen estava numa encruzilhada e o que decidiria iria influênciar a vida de todos os habitantes de Krondana. Carmen via o caminho a seguir e sabia o que traria.


«Não.» disse Carmen. «Não farei essa escolha.»


Todo o povo ficou a observá-la surpreso.


«Não serei a criadora de mais uma sociedade que vai ser destruida por forças internas por causa de decisões mal tomadas.» disse Carmen. «Sois livres de criar vossa própria sociedade sem influências do passado. Eu não serei responsável por essas decisões.»


E Carmen voltou ao grande salão para junto dos seus companheiros.


Catarina estava perdida entre as almas perdidas no Limbo. Que podia fazer ela ali sem ligação a uma alma e fora de alcance do poço das almas. Uma alma aproximou-se dela a medo.


«Sois uma Banshee?» perguntou a alma.


«Sou.» respondeu Catarina.


«Estais muito longe de onde deveríeis  estar.» disse a alma.


«Eu sei.» disse Catarina. «Estou perdida no Limbo como vós.»


«Posso ajudar-vos.» disse a alma.


«Como?» perguntou Catarina.


«Posso levar-vos até á entrada do Limbo, mas a saída devereis enfrentar só.» disse a alma.


«Porque deverei confiar em vós?» indagou Catarina.


«Porque não tendes escolha.» disse a alma.


«Realmente as únicas escolhas são ficar aqui perdida ou seguir-vos.» disse Catarina. «Mostrai-me o caminho.»


A pequena alma levou-a por entre o Limbo sempre seguindo uma luz que se tornava cada vez maior até chegarem a um portal de luz.


«Aqui está a entrada do Limbo.» disse a alma.


«Que devo fazer?» perguntou Catarina.


«Deveis entrar no portal e enfrentar a sua guardiã.» disse a alma. «Se conseguirdes passar estareis de volta ao reino dos mortais.»


«Obrigado por vossa ajuda.» disse Catarina. «Mas quem sois?»


«Sou o que resta de uma alma partida.» disse a alma. «Voltaremos a ver-nos Catarina.»


«Como sabeis o meu nome?» indagou surpresa Catarina. «Quem sois vós?»


Mas a pequena alma já desaparecera.


«Terei de enfrentar a guardiã.» pensou Catarina. «Que assim seja.»


Catarina penetrou no portal e deu consigo numa sala de luz onde uma jovem a esperava com um sorriso.


«Sois vós a guardiã?» perguntou Catarina.


«Assim é.» disse a jovem de longos cabelos castanhos, pele pálida e olhos castanhos doces. «Vindes tentar voltar ao mundo dos vivos?»


«Assim é?» disse Catarina. «Não desejo lutar mas necessito de voltar.»


«Eu sei que sim.» disse a jovem. «Foi-me pedido que vos deixe passar.»


«E aceitareis esse pedido?» perguntou Catarina esperançosa.


«Quem me faz esse pedido são muito queridos pelo meu coração.» disse a jovem. «Eu aceitarei o seu pedido. Podeis passar  para o mundo dos vivos.»


«Obrigado.» disse Catarina sorrindo encaminhando-se para a saída. «Vós pareceis-me  muito familiar.»


«Sim deveras.» disse a jovem. « O meu nome é M...»


«O vosso nome é?....» perguntou Catarina mas já se encontrava no grande salão junto dos seus companheiros. «Não consegui ouvir-vos.»


Cristina continuava a asneirar todas as suas tentativas de cumprir com o que António e Cláudia lhe pediam para fazer.


«Faremos um intervalo.» disse António.


«Mas António.» disse Cláudia. «Cristina não está a conseguir fazer nada.»


«Sim por favor.» disse Cristina chorosa. «Eu conseguirei....»


«Eu disse que faremos um intervalo.» disse António afastando-se resignado.


Cristina dirigiu-se para uma pequena fonte para se refrescar.


«Não estejais a tentar tratar-me como um deus nem a Cláudia.» disse António do topo de um ramo por cima dela.


«António!» exclamou Cristina assustada. «Que susto me haveis pregado.»


«Desculpai-me Cristina.» disse António rindo. «Mas o ponto que queria fazer mantem-se. Eu não sou um deus nem Cláudia o é e enquanto pensardes assim nunca conseguireis fazer nada por vós.»


«Mas vós tendes tantos conhecimentos e ensinamentos...» disse Cristina.


«Conhecimento adquire-se através do estudo e dos erros que se comete.» disse António descendo para o chão.» disse António. «Admirai o meu conhecimento e o poder de Cláudia mas não penseis sequer por um momento que em vós não existe o potêncial de ter o mesmo conhecimento.»


«Mas não consigo sequer aprender o mais básico.» disse Cristina tristemente.


«Isso porque já o haveis feito.» disse António afastando-se. «Olhai para dentro de vós e vêde a verdade.»


Cristina olhou para o seu reflexo na fonte e os seus olhos verdes viram a verdade do seu treino e o a viajem que já fizera e as perdas e vitórias que já vivera e estava de novo no grande salão.


«Obrigado António por vossas palavras.» disse Cristina sorrindo.


Bete estava a enfrentar-se...


«Como é possível?» perguntou Bete.


«O quê?» respondeu a réplica negra. «Que esteja aqui á vossa frente pronta a destruir-vos?»


«Vois não podeis ser real!» exclamou Bete.


«Sou tão real como a vossa morte.» disse a Bete negra sorrindo malevolamente.


As duas Betes atacaram-se com os seus poderes embatendo num impasse.


«Não podemos vencer.» disse Bete. «Somos o mesmo.»


«Não. Não somos.» disse a Bete negra. «Eu alimeto-me do medo e do mal e vós tendes isso em vós o que me faz mais forte.»


E com isto os poderes negros abateram-se sobre a luz de Bete querendo abafála e destruindo-a.


«Sentis o vosso medo a alimentar-me?» perguntou a Bete Negra.


«Não.» disse Bete. «Eu sei quem sois vós.»


«E quem sou?» perguntou a réplica.


«Sois o meu lado sombrio.» disse Bete. «Sois o que escondo do mundo mas não preciso temer-vos. Sois apenas parte de mim algo que faz parte de mim.»


E Bete levantou-se e a sua luz começou a absorver as trevas da sua contraparte negra até ser completamente absorvia em Bete.


«Eu sou Bete.» disse a jovem. «Completa tanto nas trevas como na luz.»


E Bete estava de volta aos seus companheiros no grande  salão.


Fábio estava paralisado sem se mecher enquanto os seus pensamentos o levavam para o precipício da loucara cada vez mais perto. Quem era Fábio? Um cavaleiro corajoso ou apenas um boneco nas mãos de um anjo, sem vontade ou capacidade. uma sombra dos seus pensamentos aproximou-se zombateira.


«É este um cavaleiro de Guildenhome?» disse a sombra rindo. «Aqui perdido na loucura.»


«Quem sois e porque ousas zombar de mim?» perguntou Fábio zangado.


«Sou quem sou.» disse a sombra. «E nisso sou mais que vós.»


«Zombais de mim sombra sem nome?» replicou Fábio exasperado.


«Zombo de quem?» perguntou a sombra rindo alto.


«Eu sou Fábio de Guildenhome! Cavaleiro e guerreiro!» gritou Fábio erguendo o seu Vento de Guerra bem alto. «E  vós conhecereis a minha fúria.»


«Assim seja Fábio.» disse a sombra desaparecendo...


Fábio voltou a estar no grande salão sabendo de novo quem era e o que precisava de fazer.


Sim Sim estava nos poços de lama secos vendo a devastação da sua espécie. Sem a lama mágica os Uruk Hai não podiam  nascer e com os poços secos a sua espécia morria com ele. Que sentido fazia agora a sua vida sem os poços e novos Uruk Hai a nascer.


«Ides fazer algo?» perguntou uma pequena serpente perto de Sim Sim.


«Que posso fazer?» disse Sim Sim. «Alem de chorar a perda de meu povo?»


«Fazei-o.» disse a serpente serpenteando para longe. «Desejo-vos paz.»


Sim Sim chorou a sua perda e sem se aperceber as suas lágrimas criavam uma pequena poça de lama onde pequenas bolhas se formavam.


«Então ainda existe esperança.» disse Sim Sim feliz e voltou ao grande salão.


Ivandro encontrava-se perante a sua tribo no seu tribunal por voltar a Kalil.


«Sabias o que aconteceria se voltasses.» Disse o rei com um sorriso de desdem. «Morrereis como um cão.»


«Eu não sei porque estou aqui.» disse Ivandro. «Mas aqui estou. Sabia qual seria o meu destino se voltasse.»


«Sereis deixado no poço dos leões sem armas.» disse o rei com um sorriso cruél nos lábios.


Ivandro foi levado e colocado num poço com várias entradas barradas. Para lá dessas barreiras ouviam-se os rugidos de leões em fúria. Ivandro estava só e os seus pensamentos percorriam todas as suas memórias de vida. Desde o seu nascimento até ao infeliz acontecimento com Carmen. Ivandro encontrou-se concentrado nos seus pensamentos enquanto os leões saíam das entradas e se encaminhavam para ele. Ivandro estava em paz consigo mesmo. Sentia-se livre de todas as maleitas e todos os maus sentimentos. Acolhia a si o seu destino qualquer fosse. Quando os leões saltaram sobre ele já Ivandro deaparecia para aparecer no grande salão.


Joninhas encontrou a sua casa, ou o que restava dela. Uma ruína carbonizada sem vida. O desespero veio ao de cima e Joninhas gritou a sua agonia aos céus amaldiçoando tudo e todos. A sua culpa por ter deixado o lar ameaçava consumi-la por completo. No seu desespero Joninhas viu uma sombra que se afastava dela.


«Assassino...» disse Joninhas entre dentes. «Não escapareis à minha vingança.»


Joninhas empreendeu uma perseguição à fugidía sombra por entre as ruínas queimadas das Florestas de Ereuth até um pequeno oásis que havia escapado à destruição. Por entre as folhas das árvores Joninhas encontrou algo que lhe devolveu toda a esperança e alegria. Havia duas pequenas elfas brincando alí. As suas filhas estavam ali e estavam bem e Joninhas voltou ao grande salão.


Joaninha tentara já várias vezes salvar os seus familiares mas falhara sempre para voltar ao início. Presa num trubilhão de morte e ressurreição a sua sanidade  fugia-lhe como grãos de areia ao vento.


«Já tentei todas as maneiras para derrotá-los e não consigo vencer.» pensou Joaninha. «Que fazer?...»


«Existe uma possibilidade.» disse uma voz dentro dela.


«Devo estar louca.» pensou Joaninha. «Ouço vozes dentro de mim.»


«Mas a possibilidade existe.» disse a voz nas trevas da sua mente.


«Que possibilidade é essa?» indagou Joaninha entregando-se à suposta loucura.


«Abraçai a morte e sêde vitoriosa.» disse a voz desaparecendo nas trevas.


«Abraçar a morte?...» pensou Joaninha. «Que poderá isso trazer de novo?»


Joaninha estava ainda enfrentando os captores de seus familiares.


«Vinde a mim anjos!» gritou Joaninha em vez de atacar em silêncio como tentara fazer tantas vezes. «Não fugirei de vós!»


Os anjos carregaram sobre Joaninha deixando a sua retuagarda desprotegida o que foi aproveitado por Tânia e Fábio para atacar e conseguir fugir. Joaninha caía em batalha feliz por salvar seus familiares e reapareceu no grande salão.


Maria estava ainda a decidir o que fazer. A sua mão era consumida pela praga negra de Zerathull. As dores eram atrozes e ela sabia que enquanto fosse viva o seu corpo seria consumido pela praga e que poria em perigo todas as criaturas que estivessem próximas dela. Na sua mente via os seus familiares a tentar salvá-la e a sucumbirem á praga. Mas pior que tudo era saber  que sua filha Diana poderia ela também sucumbir á Praga. Maria engoliu o seu orgulho e sem olhar para trás lançou-se no vazio. E reapareceu no grande salão.


Neuza recebia o julgamento de seus pares. A maioria queria enviá-la para Sciondar para deleite de Zerathull.


«Mandai-me para onde vos aprouver.» disse Neuza. «O que fiz salvou vidas incontáveis. Eu serei sempre responsável pela salvação de inúmeros demónios duma morte em vão. Não me arrependerei disso.»


«Devolvei a espada.» ordenou um dos demónios mais velhos.


«Não a devolverei.» disse Neuza. «Irei para o meu destino sem nunca revelar onde se encontra.»


A multidão de demónios vociferava contra Neuza,mas esta nem notava. Estava com os seus pensamentos longe. Pensava nos seus companheiros que a lembrariam não só como uma demónia mas também como uma aliada de valor. No meio das ameaças e violência que caíam sobre ela, Neuza sorria satisfeita e reapareceu no grande salão.


Paula estava a morrer no deserto. Como poderia ela sobreviver ali?


«Paula ides mesmo desistir de mim e de vós?» perguntou a voz de Rita no seu intímo.


«Rita?» indagou Paula surpresa. «Como é possível?»


«A gota da água de vida que vos dei liga-nos para sempre.» disse Rita. «Por favor usai-a para sobreviver amiga.»


Paula lembrou então a morte de Rita e o seu ultimo gesto. Sem hesitar Paula usou a Água da Vida para se reviver e reapareceu no grande salão.


Rose estava na presença do conselho dos Anciães de sua aldeia para enfrentar o juizo por seu envolvimento no roubo do navio dos anjos.


«Vossas ações levaram a consequências para nosso povo.» disse um dos anciões.


«E haveis violado a paz de membros mortos de vossa tribo.» acusou outro.


«O que fiz foi para bem de meu povo.» disse Rose receosa.


«Que bem?» indagou outro dos anciões. «Serem tratados como escravos mais tempo?»


«Mais vale ser um escravo vivo, do que mais um cadáver a apodrecer numa cruz.» disse Rose. «Que pensais que aconteceria a esta aldeia após a construção do navio?»


«E a degradação dos corpos?» insistiu o ancião acusador.


«Foi uma decisão de desespero.» disse Rose. «Mas prefiro degradar um corpo morto que usar os meus conterrâneos vivos como alvos para anjos»


O burburinho dos anciões silenciou-se enquanto se preparavam para dar o seu veredicto.


«Sois livre.» disse um dos anciões. «Vossas ações foram justificadas.»


Rose sorriu para si mesma enquanto reaparecia no grande salão.


Sérgio enfrentava-se e via o que poderia ser se adotasse todo o seu tenebroso poder.


«Achais que me podeis vencer?» perguntou o tenebroso Sérgio.


«Já venci.» disse Sérgio sorrindo malévolamente.


«Que dizeis?» indagou o outro Sérgio surpreso.


«Sois tão maligno que apenas vos haveis dedicado ás artes negras da Necromância.» disse Sérgio confiante. «Eu estudei tanto as artes negras como as da luz. O meu poder não se compara ao vosso. É infinitamente superior. O meu medo de ser como vós levou-me em direções de estudo que me permitiiram usar os dois poderes virtuosamente. Saí de minha vista ser de medo! Não tendes poder sobre mim.»


Sérgio brilhou com uma luz fria e mortal e o sua contraparte foi destruída enquanto ele reaparecia de novo no grande salão.


Vanessa enfrentava o juizo dos seus pares em Zhoran.


«Sabeis o destino que vos aguarda.» disse o principal professor de Zhoran.


«Então é assim que termina.» disse Vanessa olhando a sala. «Não sendo capazes de aprender ou mudar vossa vocação condena-se á morte quem pode levar Zhoran a novas honras.»


«Blasfémia!» gritou um professor.


«Zhoran estagnou no tempo.» disse Vanessa. «Quase todas as outras raças e humanos conhecem as técnicas de Zhoran e desenvolvem defesas contra elas. Em breve apenas a fama de Zhoran ficará pois seus assassinos terão sido derrotados. Eu aprendi novas técnicas e proponho ensiná-las de modo a que Zhoran sobreviva e prospere no futuro.»


«E a tradição?» perguntou o principal professor.


«Se ficarmos presos pela tradição então Zhoran não sobreviverá.» disse Vanessa tristemente. «Algo que aprendi é que apenas a evolução pode ajudar a sobrevivência  desta escola de assassinos. Podemos manter as escolas originais para ensino básico e outras escolas para ensinar novas técnicas aprendidas por nossos membros. Ou incluir novos ataques nas escolas originais.»


A escola ficara dividida entre os tradicionalistas e os evolucionários.


«Mas o problema mantem-se.» disse um dos professores. «Que faremos se Vanessa perder o controlo de si mesma?»


«Quereis tomar minha vida mesmo sem saber se me perderei ou não?» indagou Vanessa. «Posso perguntar-vos o que fareis se um professor perder o controlo e envenenar a escola? Matareis todos os professores para evitar esse resultado?»


A sala ficou em silêncio. O que Vanessa dissera tocara fundo nos seus corações. Vanessa nunca mostrara qualquer perda de controlo nem mesmo quando descobrira que a combinação de treinos que tivera a deixava quase invencível a quem só tinha formação em umas das técnicas e não na outra. Vanessa havia mantido a sua posição e a sua amabilidade em todas as ocasiões. Porque mudaria ela a sua personalidade agora? Vanessa enfrentara o seu medo e vencera e voltou ao grande salão com mais confiança e o seu sorriso trazia agora um brilho novo.


Nela enfrentava uma contraparte rica em conhecimento nas arte negras.


«Desejais render-vos às minhas trevas?» indagou a contraparte.


«Não.» disse Nela. «Tenho fugido de vós desde á muito, mas nunca mais.»


«Ides enfrentar-me?» disse a contraparte divertida.


«Não.» disse Nela. «Vou abandonar-vos.»


Nela virou as costas e afastou-se.


«Esperai!» gritou a contraparte em pânico. «Que fazeis? Não pode haver luz sem sombra!»


«Então desaparecereis.» disse Nela continuando. «Ou preferis voltar a mim e manter-vos em vosso lugar?»


«Irei convosco.» disse a contraparte admitindo a derrota.


Nela  voltou ao grande salão.


Mira continuava a sua vida de reclusa na grande cidade. Em breve ficaria louca sem a sua vida errante.


«Que fazeis aqui fechada?» perguntou uma sombra na parede.


«Estou louca.» disse Mira. «As sombras falam-me.»


«Louca ou não que fazeis aqui?» perguntou novamente a sombra.


«Não encontro saída.» disse Mira.


«A saída está dentro de vós.» disse a sombra. «Sois uma Slovy ou não?»


«Sou.» disse Mira enfastiada. «Eu sou uma Slovy.»


Mira pôs algumas coisas de parte para levar numa viagem e vestiu o seu antigo fato de viagem e sem olhar para trás atravessou a porta e voltou ao grande salão.


Rute estava perdida em Askelon.


«Que aconteceu aqui?» indagavasse Rute.


«Eu aconteci.» disse uma voz atrás dela.


«Quem sois vós?» perguntou Rute assustada.


«Não me reconheceis?» indagou a voz jocosa.


Atrás de Rute encontrava-se Rute na sua forma de Górgona.


«Eu fiz isto?» indagou Rute assustada. «Não é possível.»


«Sou o que vos haveis tornado depois de terdes sido derrotada por Marco.» disse a Górgona. «Voltei a Askelon e destruí todas as Górgonas.»


«Sois então o futuro que Marco me mostra.» disse Rute infeliz. «Um futuro imutável e sombrio.»


«Vossa derrota irá criar-me e destruir Askelon» disse a Górgona rindo-se.


«Digo-te não vil criatura!» exclamou Rute colérica. «Marco não me derrotará!»


Rute transformou-se em Górgona também e a batalha começou. Garras voavam e tentavam atingir o corpo da adversária enquanto os olhos se tentavam fixar nos olhos da inimiga e transformá-le em pedra. As duas lutarm por horas desde as catacumbas até ás muralhas e por fim no topo da ilha. Uma das pedras resvalou sob o peso de Rute e esta ficou à mercê da sua contraparte futura.


«Dizei adeus à vossa vida e que se inicie a minha.» disse a contraparte tentando fixar os seus olhos nos de Rute.


Mas antes que conseguisse um bando de hárpias atacou-a impedindo-a.


«Obrigado pequenas hárpias.» disse Rute recuperando e olhando os olhos de sua adversária e tornado-a pedra. «Não sei porque o haveis feito minhas pequenas mas não desperdiçarei a oportunidade que me haveis dado.»


E com toda a sua força Rute atacou a sua contraparte e atirou-a para o pátio do palácio partindo-a em pedaços.

Rute voltou então ao grande salão.