Capítulo 65


Pequenina andava pelo castelo de Naar à procura de David enquanto um verdadeiro exército de aias a tentava vestir


«Príncipe David!» exclamou Pequenina ao vê-lo.


«Princesa.» disse David com uma vénia enquanto observava a princesa élfica semi-vestida de noiva na sua frente.


«David não devíamos estar noutro local?» indagou esperançosa Pequenina.


«É o dia de vosso matrimónio.» disse David sério. «Não acho que deveríeis estar em mais local algum do que aqui.»


«Mas...» ia dizer Pequenina.


«Princesa.» Disse a aia. «Deveis preparar-vos.»


E sem cerimónias Pequenina foi levada pelas aias para se preparar para o seu casamento.

Este casamento já tinha sido firmado havia muito tempo por seu pai. E embora enamorada de seu pretendente Pequenina sentia que não era ainda o momento de se casar porque no seu íntimo sentia algo de errado.

Mas nem David parecia saber o que se passava e algo nele estava diferente embora Pequenina não conseguisse dizer ao certo o quê.

Pequenina deixou de resistir às suas aias e deixou-se preparar para a cerimónia. Todo o castelo estava engalanado para a boda. O grande salão cheio de delegações de reinos distantes e próximos.

O rei e a rainha e o jovem nobre esperavam a chegada de Pequenina que entrou linda pelas grandes portas dirigindo-se para eles. Pequenina olhava para os convidados sorrindo enquanto se aproximava e então olhou David de cima a baixo.


«A aura!» exclamou Pequenina. «A aura desapareceu. Isto não é real. É apenas uma ilusão!»


E com a realização do engano Pequenina apareceu no grande salão.


Angela passou dias em estudo de todos os animais e plantas que via, documentando tudo o que podia mas a sua alma estava perturbada.Embora este fosse o seu maior desejo ela sabia na sua alma que devia estar noutro local.

Decidiu então ir ter com Patiscas.


«Patiscas podeis mostrar-me o mundo?» perguntou Angela.


«Sentis saudades de casa?» perguntou Patiscas.


«Sim.» disse Angela. «Pode-se dizer que é isso.»


Patiscas levou-a até uma pequena fonte na sua ilha onde podia observar o mundo.


«Que desejais ver?» perguntou Patiscas.


«Gostaria de ver Pequenina e Joninhas de novo.» disse Angela.


Patiscas agitou as águas da fonte e quando estas pararam imagens de Pequenina no castelo de Naar e de Joninhas nas Florestas de Ereuth formaram-se à superfície.


«É o que eu pensava.» disse Angela. «Uma ilusão dos meus maiores desejos.»


E com essa descoberta Angela voltou ao grande salão.


Cátia e João estavam felizes juntos desfrutando dos seus corpos pela primeira vez. O amor que nutriam um pelo outro crescia como nunca. Todos os seus desejos tinham sido realisados.


«João.» disse Cátia aninhada nos seus braços.


«Dizei meu amor.» disse João beijando-lhe a testa.


«Eu estou muito feliz por estar aqui connvosco.» disse Cátia mas algo me diz que algo está mal neste mundo.»


«Eu sei.» disse João. «Não o quis dizer para não vos preocupar mas a minha transformação preocupa-me.»


«Porquê?» indagou Cátia.


«Porque nunca o tinha conseguido e de repente sou humano sem sequer tentar.» disse João. «Não é possível para os Elementais de Terra se tornarem humanos. É uma das nossas condições principais.»


«Então o que temos aqui...» disse Cátia tristemente.


«É apenas o reflexo dos nossos desejos mais profundos.» disse João. «Precisamos decidir se queremos continuar para sempre aqui numa mentira feliz ou se voltamos para junto de nossos companheiros.»


«Temos de voltar.» disse Cátia chorosa. «Temos uma missão e eu tenho uma promessa a cumprir.»


«Teremos sempre este breve momento.» disse João abraçando-a como humano pela última vez.


E apareceram juntos no grande salão.


David e Freira começaram a sua investigação por Lígia.


«Não entendo o que se passa.» disse Lígia. «Não sinto qualquer ameaça mas sinto que algo está errado com este mundo.»


«Assim como nós.» disseram David e Freira.


«Mas que fazem aqui?» perguntou uma voz que os assutou de morte.


«António?» perguntaram os três ao mesmo tempo.


«É esse o meu nome.» disse António jocoso e surpreso com as faces assustadas de seus senhores. «Tenho algo nas minhas faces que vos assusta assim tanto que parecem ter visto um fantasma de Mirk.»


«Estais vivo?» perguntou Freira recompondo-se.


«Não é suposto estar?» perguntou António tentando desanuviar o momento. «Vim buscar-vos para o dejejum.»


«E Cláudia?» perguntou Lígia.


«Quem?» perguntou António.


«A mãe de vossa filha.» disse David. «A mãe de Cantante.»


«David eu não tenho filhos e sou feliz com Mashenka.» disse António piscando-lhe o olho. «Não me tenteis meter em sarilhos.»


Os três seguiram António surpresos com o que haviam ouvido.

 

«António podeis dizer-me que dia é hoje?» perguntou Freira.


«Hoje é o sexto dia da sexta Lua.» disse António.


A data enviou arrepios pelas costas de David.


«Hoje é o dia em que Mashenka morre.» disse David em surdina.


«Hoje?» perguntou Freira. «Então podemos impedir que aconteça»


«Sim.» disse Lígia. «Mas será que devemos?»


«Como assim?» perguntou Freira.


«Nós podemos mudar o rumo dos acontecimentos aqui e seguir para um futuro incerto ou podemos deixar tudo acontecer e não mudar o futuro que já conhecemos.»


«Mas podemos salvar António do destino que já conhecemos.» disse Freira.


«Mas a que preço?» perguntou David. «António ficará vivo e Cantante desaparecerá.»


«É verdade.» disse Lígia. «E sem Cantante o nosso futuro será diferente e possivelmente muito mais difícil pois Cristina, Vanessa e Gladiador não receberão o treino com António.»


«Nem Rute.» disse David. «É como atirar uma pedra a um lago. Todas as ondas criadas afetam todo o lago que não será afetado se não lançar-mos a pedra.»


«Então poderemos falhar nossa missão se Mashenka sobreviver?» pensou alto freira.


«Não sabemos com certeza.» disse David. «Mas sabemos as repercusões nas vidas de outros se ela sobreviver.»


«Que faremos então?» perguntou Lígia.


«Por muito insensível que seja da minha parte dizê-lo, mas Mashenka deve morrer hoje.» disse David.


«Eu concordo.» disse Lígia tristemente.


«Mas não sabemos se o que o fizermos aqui terá assim tão nefastas consequências.» disse Freira olhando António que se afastava. «Será que não devemos como seus amigos avisá-lo do perigo?»


«Não. Não deveis.» disse uma voz atrás deles.


«Quem?» perguntou David olhando para trás e vendo uma luz .


«Por favor não deveis interferir.» disse a luz com uma voz familiar para David e Lígia. «Obrigado por vossa preocupação mas não deveis interferir no destino de Mashenka.»


«Mas vós sois Mashenka.» disse David.


«Por isso vos rogo que não interfiram no meu destino nem no de António.» disse A luz que era Mashenka. «O seu destino está ligado a vossa missão em  modos que desconheceis. Perdão por não vos poder dizer mais mas por favor não deveis interferir nos acontecimentos deste dia.»


«Se é esse vosso desejo.» disse Freira convencida.


E os três voltaram ao grande salão.


Claudina estava no seu trono seguindo o seu reinado de ouro e paz no reino de Zaigonne. Mas a sua alma estava perturbada. Sentia que tudo era uma mentira. Não conseguia localizar a razão mas algo estava mal. Claudina decidiu experimentar um antigo feitiço quase proíbido pelos antigos líderes de seu povo mas conhecido de alguns dos membros mais poderosos.

Claudina evocou as névoas de Osgoth para saber a verdade. A sala encheu-se de fumo e nesse fumo começaram a formar-se formas dos antigos magos de Zaigonne.


«Quem nos invoca?» perguntou uma das formas.


«Claudina líder de Zaigonne vos invoca.» disse Claudina


«Líder?» disse outra das sombras.


«Dizei-me a verdade.» pediu Claudina. «O que sinto na alma é verdadeiro.»


«Viveis vosso desejo.» disse outra das sombras. «O que vossa alma vos diz é que suspeitais de ser apenas uma ilusão»


«Então é verdade.» disse Claudina sentindo-se mais confiante. «É apenas o reflexo de meus desejos, nada mais.»


«Mas pode ser mais.» disse uma última sombra enquanto se desvanecia. «É um sonho digno de ser completado.»


E assim Claudina apreceu de volta no grande salão.


Duarte estava a viver o seu sonho. Era feliz com a sua filha em Kor, mas sabia também que deveria estar longe dali a fazer algo por sua filha e todo o seu povo. Os dias corriam felizes e iguais como se todos os dias fossem o mesmo. Duarte ficava cada vez mais absorto na sua dúvida de ficar ou partir para fazer o que estava destinado para ele.


«Duarte...» Uma voz chamava por ele da árvore de Oten. «Vinde a mim.»


«Quem me chama?» indagou Duarte diante da grande árvore.


«Eu vos chamei aqui.» disse a voz correndo por entre os ramos. «Deveis partir. Vossos companheiros esperam por vós.»


«Mas a minha filha e a minha vida aqui?» indagou Duarte reticente.


«Se não fordes não sobreviverão mais tempo.» disse a voz restolhando por entre as folhas.


«Eu sinto que é verdade o que me dizeis.» disse Duarte. «Devo partir. Obrigado por me fazerdes ver minha verdadeira missão.»


E Duarte voltou ao grande salão.


Diana, Cláudio e Jaime estavam em Emrik com Tanuska.


«Esperai.» disse Jaime. «Cláudio nunca esteve em Emrik.»


«Realmente. Agora que falais nisso é verdade.» disse Cláudio. «Não deveria estar aqui.»


«Nem Tanuska.» disse Diana. «Vós haveis morrido em Meneloth.»


«Que espécie de magia nos envolve?» perguntou Jaime.


«Acho que sei.» disse Diana. «Este é o meu desejo, estar em casa com as pessoas de quem mais gosto.»


«Por isso Tanuska está viva e Cláudio está connosco.» disse Jaime.


«Acho que está na altura de me despedir de Tanuska e voltar-mos.» disse Diana com os olhos rasos de água. «Adeus minha amiga. Voltaremos a ver-nos.»


E os três voltaram ao grande salão.


Greg estava diante Cláudia a arcanjo que o recebia de braços abertos no Arco de Cristal dos Altos Céus.


«Senhora não deveríamos estar a fazer algo diferente?» perguntou Greg.


«Sentis o mesmo?» indagou Cláudia. «Sinto que algo está mal, como se me manipulassem como uma marioneta.»


«Sim senhora.» disse Greg. «Algo brinca connosco.»


«Juntemos os nossos poderes e tentemos libertar-nos desta influência.»


Os dois uniram os seus poderes e viram a ilusão criada por seus desejos e essa realização libertou-os no grande salão.


Joana podia seguir a sua vida ou tornar-se uma Víuva Voadora. Seguir sendo humana com todas as alegrias e tristrezas que isso implicaria ou o ser um ser imortal em busca de vingança que quando saciada a destruíria para sempre. Um dilema que a atormenteva nesse momento. Mas lembrava-se de sua vida e do que a tinha tornado uma Víuva Voadora e os amigos que fizera enquanto estava com seus companheiros.


«Eu sou Joana.» disse Joana pensativa. «Serei e para sempre serei uma Víuva Voadora. Estou grata por este momento de reflexão mas a minha decisão mantem-se.»


E assim Joana voltou ao grande salão.


Lina continuava o seu reinado sobre as terras de seus pais. Mas reinar não era o que Lina desejava. Lina sempre habituada à ação não gostava de ficar no seu castelo respondendo a questões quotidianas de seus vassalos e a dirigir o reino de seu trono.


«Pensei ser isto que mais desejava.» disse Lina pensativa. «Mas não é para mim destino. Lina deve ser livre e guerreira não uma figura de estado no seu trono real.»


E Lina voltou ao grande salão.


Luís estava de volta ao seu país reconstruído. As cidades e monumentos estavam como sempre tinham estado como se nada tivesse acontecido.


«Está tudo como me lembrava.» disse Luís feliz com tal visão.


«É uma pena.» disse uma pequna sombra.


«Porquê?» disse Luís.


«Sois de Malikor.» disse a sombra desvanecendo-se. «Deveis saber a razão.»


«Sei...» disse Luís pensativo. «Que terei descurado?»


Luís explorou a cidade de alto a baixo e finalmente a resposta estava diante dele.


«Minhas Deusas!» exclamou Luís. «Eu entendo o que me dizia a sombra. Não existem novos monumentos. Deviam haver novos monumentos mostrando a destruição e a reconstrução da cidade.»


Luís entendia a ilusão dos seus maiores desejos e voltou ao grande salão.


Patrícia estava em casa depois da sua viagem pelo mundo. O seu desejo estava cumprido. A nostalgia de estar em casa e ver o que deixara para trás durante tanto tempo era muito reconfortante.


«Não deveréis acabar vossa viagem?» perguntou uma sombra.


«Acabei a viagem.» disse Patrícia. «Não voltaria a casa sem a completar.»


«Como é então Edin?» perguntou a sombra zombateira.


«Edin?» disse Patrícia pensativa. «Não me lembro de ir a Edin.»


«Então não haveis completado a vossa viagem.» disse a sombra desaparecendo.


«Tendes razão.» disse Patrícia. «Falta visitar Edin.»


E Patrícia voltou ao grande salão.


A vida Claudino corria como sempre desejara entre alcool e mulheres. Mas sentia um vazio que se formava dentro dele como se tivesse esquecido de algo.


«Sentis arrependimento?» disse uma das mulheres que se encontrava com ele. «Não tendes algo a fazer.»


«Algo que esqueci aqui entre vós.» disse Claudino absorto em seus pensamentos. «Algo que prometi fazer.»


«Promessas são para ser cumpridas.» disse outra das jovens.


«Eu irei cumprir.» disse Claudino saltando do leito. «Prometi proteger alguém e estou aqui a falhar com minha promessa.»


Claudino lembrava que prometera proteger Tânia até esta poder voltar para Beatriz e Fábio. E assim voltou ao grande Salão.


Raquel e Yori estavam resplandescentes nos seus aparatos reais de casamento. Todo a cidade estava engalanada para a boda real.


«Estais linda.» disse Yori.


«Vós também estais maravilhoso.» disse Raquel. «Mas ainda sinto algo estranho.»


«Eu também.» disse Yori preocupado. «Algo estranho se passa.»


«Não encontrei nenhum de nossos companheiros aqui.» disse Raquel. «Nem nas comitivas de outros reinos.»


«Não pode ser.» disse Yori. «Os nossos companheiros não faltariam neste dia.»


«Concordo connvosco.» disse Raquel. «Isto não é real. Esta cidade e mesmo o reino não são reais.»


«Parece um sonho.» disse Yori.


«É isso.» disse Raquel. «É a conjugação dos nossos sonhos e como são dois sonhos estão em conflito e deixam-nos confusos.»


«Tendes razão.» disse Yori.


E os dois amantes voltaram ao normal no grande salão.


Tânia continuava a sua vida com Beatriz e Fábio no paraíso nórdico que era Meneloth.


«Estais feliz?» perguntou Fábio.


«Muito.» disse Tânia sorrindo docemente. «Estar aqui convosco e com Beatriz é o meu maior desejo.»


«Ainda bem.» disse Fábio afastando-se  para brincar com Beatriz que construía um boneco de neve.


«É mesmo o mau maior desejo.» disse Tânia pensativa.


«E nem notais nada de mal?» disse uma pequena sombra perto dela.


«Que quereis dizer?» perguntou Tânia surpresa.


«Não falta nínguem neste paraíso que haveis construído para vós?» disse a sombra desvanecendo-se ao sol.


«Não.» disse Tânia. «Quem falta aqui a não ser... Joaninha....»


Tânia entendia o que se passava. O seu maior desejo excluía a sua irmã e todos os outros de sua vida. Não era isto que ela desejava e com pesar no coração olhou uma última vez para Fábio e Beatriz e voltou ao grande salão.


Vânia corri pelas florestas de Milufan como fizer tantas vezes mas cada vez mais parecia-lhe uma rotina e não um desejo de seu coração fazê-lo. Era o que mais gostava de fazer mas ao mesmo tempo fazia-o tantas vezes que já não havia alegria ao fazê-lo.


«Cuidado com o que desejais.» disse Vânia pensativa. «Podeis consegui-lo.»


Vânia decidiu fazer outra coisa e nesse momento voltou ao grande salão.


Vera sabia o que se passaria dentro de momentos. A sua senhora caíria do seu cavalo morrendo. Aqui estava a sua oportunidade de a salvar.


«Poderei salvá-la.» disse Vera aproximando-se.


«E que será de vós?» perguntou uma sombra


«De mim?» perguntou Vera surpresa.


«Se a salvardes todos saberão que haveis sabido do acidente antes de acontecer.» disse a sombra. «Apenas um assassino sabe da maneira da morte antes desta acontecer.»


«Eu não sou uma assassina.» disse Vera em sua defesa.


«Vossos juizos são conhecidos.» disse a sombra desvancendo-se. «Em Okunada sereis morta.»


Vera sabia que isso era real. Poderia salvar sua mestra e ser morta ou viver e deixar sua mestra morrer outra vez.


«Os meus companheiros necessitam de mim.» disse Vera. «Desculpai-me senhora por não vos salvar.»


E Vera voltou ao grande salão.


Candido estavas entre as lendas de seus antepassados comendo e bebendo e guerreando com apenas os anões conseguem fazer. A sua alegria não tinha medida enquanto minava as profundezas da terra por riquezas sem igual. O que poderia comparar-se às belezas das suas grandes cidades subterrâneas.


«Estais muito feliz anão.» disse uma sombra perto de Candido.


«Claro que estou.» disse Candido. «Não deveria estar?»


«Será uma verdadeira alegria?» perguntou a sombra desaparecendo.


«Claro que é.» disse Candido. «Estou entre lendas...»


Candido ficou surpreendido pelo que dissera. Lendas. Não eram as que existiam agora, eram as das lendas do passado. Candido lembrava-se agora das grutas pequenas partilhadas com os Gnolls onde roubavam e lutavam entre si por pequenos despojos. As lendas eram lindas mas não eram a realidade que Candido vivia e ele voltou ao grande salão.


Nuno estava na antiga cidade dos Thorian antes da grande destruição. Nuno sabia o que se passaria e que iria sofrer e aprender sózinho como último Thorian. Talvez pudesse salvar mais alguém mas também sabia que isso era impossível. Nuno sabia que só sobrevivera por ter chegado atrasado e sua irmã se tornara uma das guardiãs. Nuno poderia tentar avisar o seu povo mas que acreditaria nele? Nuno sabia no seu íntimo que nada mudaria por mais que tentasse. E voltou apenas a ver a sua cidade antes de voltar ao grande salão.


Sílvio estava num estado de graça. A sua vida corria de feição. A sua mulher mimava-o e passava o seu tempo a aprender mais sobre a magia. Parecia estar no seu paraíso pessoal . Nas suas buscas por mais poder mágico empreendeu uma viagem pelo plano astral. Um mundo dentro do mundo onde os magos podiam mover-se por toda a criação mas algo estava mal. Sílvio não conseguia sair de seu castelo mesmo no plano astral.


«Isto não é real.» disse Sílvio saindo do plano astral. «Estou preso numa fantasia da realidade. Embora seja muito apetecível ficar devo partir.»


E Sílvio voltou ao grande salão.


Katy e a sua família eram felizes na sua quinta longe de todos os problemas mas Katy sentia uma atração pelo alfange que descansava na parede. Parecia que a alfaia a chamava e lhe pedia que lhe tocasse. Katy sentia uma vontade de tocar-lhe mas algo lhe dizia que se o fizesse a sua felicidade acabaria.


«Isto é uma loucura.» disse Katy para si mesma. «É apenas uma alfaia. Nada acontecerá por lhe tocar.»


E a medo Katy aproximou-se do alfange e tocou-lhe recobrando as suas lembranças do ataque à quinta e a morte de todos. Katy chorou a sua perda mas ao mesmo tempo lembrava também a promessa de Sérgio e isso fez Katy recuperar a sua compostura e voltou ao grande salão.


Bruno andava ao mesmo tempo feliz e inquieto. Sentia-se bem por estar de volta ao seu clã mas ao mesmo tempo a sua veia aventureira continuava a pedir-lhe novas aventuras que não teria como pastor em Cobb. Nem o seu recente romance com uma jovem de Cobb lhe tirava a vontade de partir novamente à aventura.


«Eu tenho de partir novamente.» disse Bruno para si mesmo. «Eu não tenho temperamento para ficar no mesmo sítio muito tempo sem me aborrecer e há sempre novas aventuras na próxima curva do caminho. Embora me custe deixar Cobb novamente é algo que devo fazer. Voltar e ficar algum tempo será sempre um prazer mas não voltar para assentar arraiais.»


E Bruno partiu voltando ao grande salão.


André e Cantante acabaram o desjejum e juntaram-se a António enquanto este se dirigia para a cpaital de Balad Naran para se encontrar com David.


«Falaremos com David e Freira e Lígia.» disse André. «Eles deverão saber o que se passa.»


«Não teria tanta certeza.» disse Cantante. «É tão estranho o que se está a passar connosco.»


«Mas não estais feliz por vê-los juntos?» indagou André.


«Sim.» disse Cantante. «Mas ao mesmo tempo é demasiado estranho por saber que estão os dois mortos e que já haveis enfrentado Cláudia em Ghoglie como uma das Víuvas Voadoras de Joana.»


«Eu apenas tenho vagas lembranças disso como se um véu toldasse a minha mente.» disse André.


«Eu sinto esse véu também.» disse Cantante. «Mas parece afetar-me pouco como se meus poderes o pudessem bloquear mas não totalmente.»


O casal e António chegaram ao palácio de Balad Naran onde David os esperava.


«Príncipe David.» saudou Cantante ao vê-lo.


«A pequena Cantante.» disse David. «Lembro-me de vós quando ereis um pouco maior que meu joelho e a gora sois já uma mulher feita.»


«Parece que David não se lembra de nossas aventuras.» disse André.


«Nem parece o mesmo David que conhecemos.» disse Cantante.


O casal falou então com Freira e Lígia com o mesmo resultado voltando para casa ainda mais confuso do que quando partira.


«Será que estamos loucos e que tudo o que passámos foi apenas um sonho?» perguntou Cantante preocupada.


«Começo a duvidar também.» disse André.


Ao chegarem a casa os servos começavam a acender as tochas para iluminar a casa para a noite que se avizinhava.

Cantante e André prepararam-se para a ceia e desceram para o salão. A luz bruxelante fazia lembrar uma caverna.


«Cantante.» disse André. «Olhai vosso pai.»


António estava perto de uma parede exercitando a sua espada.


«O que quereis que veja...» disse Cantante não terminando a frase.


Os olhos de Cantante ficaram presoas à visão que se projectava na parede atrás de António. Uma sombra de uma criatura semelhante a um dragão com as suas asas abertas.


«Parece a dança que Evolus fazia na caverna quando não conseguia dormir.» disse Cantante recuperando as suas memórias. «Eu fui criada por Evolus numa caverna não por meus pais aqui.»


Cantante e André voltaram ao salão.